Folha de S. Paulo


'É uma chantagem', diz governador do ES sobre protesto de familiares de PMs

Joel Silva/Folhapress
Governo do Espírito Santo participa de entrevista para falar sobre crise na segurança no Estado
Governo do Espírito Santo participa de entrevista para falar sobre crise na segurança no Estado

O governador licenciado do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), afirmou nesta quarta-feira (8) que o movimento que suspendeu o policiamento no Espírito Santo é uma chantagem. "É um caminho errado que rasga a Constituição, é uma chantagem."

Em uma espécie de desabafo, Hartung classificou o movimento como "atitude grotesca". "Se não enfrentarmos isso, é hoje aqui e amanhã no resto do Brasil", afirmou. "Sequestraram o direito do povo e estão cobrando resgate, mas não se paga resgate por aspecto ético nem pelo descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal."

O governo do Espírito Santo mantém a posição de conversar com os policiais militares somente se o policiamento for retomado. O motim dos PMs começou no dia 3 de fevereiro.

"Estamos à disposição para conversar dentro da nossa realidade de caixa com a condição de que de cumpra a lei", disse César Colnago, governador em exercício, já que Hartung está afastado por questão de saúde.

O secretário da Segurança, André Garcia, evitou fazer um balanço de ocorrências, mas disse apenas que houve em grande aumento de mortes. Segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo, 95 pessoas já morreram no Estado desde o início do motim dos PMs. "Coloco essas ocorrências e mortes na conta do movimento", disse Garcia.

Tanto o governador quanto o secretário da segurança afirmaram que o movimento de familiares foi politizado. Na noite desta terça (7), mulheres de policiais se reuniram com deputados e com a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) na Assembleia do Estado.

Depois disso, segundo eles, os policiais que começavam a sair às ruas, voltaram para os quartéis. "Existe um movimento para desorganizar a segurança. Uma interferência de atores atrapalhou. O processo foi sabotado", disse Colnago. "Não podemos colocar a sociedade de vítima desse jogo político. Tem gente apostando do quanto pior, melhor", completou.

Representantes do governo e dos familiares de policiais militares irão se reunir na noite desta quarta (8) após solicitação das associações de policiais militares.

Em carta para o governador Paulo Hartung, os presidentes das associações pediram a antecipação de uma reunião que estava marcada para sexta (10).

"As entidades representativas de classes da PM, embora não tenham quaisquer participação no que concerne ao movimento de paralisações [...] vêm atender ao apelo feito pela Assembleia Legislativa [...], no sentido de convergir todas as forças necessárias para contribuir na abertura de diálogo", diz o texto.

REAJUSTE SALARIAL

Desde sábado (4), familiares de policiais bloqueiam a saída de viaturas das unidades de polícia. Eles pedem melhores condições aos policiais militares, como aumento de salário e adicionais por periculosidade e trabalho noturno. De acordo com o Clube dos Oficiais da PM do ES, os servidores estão há três anos sem receber recomposição da inflação –a última reposição foi em 2014, de 4,5%. O último aumento salarial da categoria ocorreu em 2010.

Onda de violência no ES
PM está em motim desde o dia 3 de fevereiro

"Onde vamos arrumar R$ 500 milhões para aumentar a folha da PM?", questionou Hartung. Esse valor foi discutido em reunião "escondida" com deputados, segundo ele. "Esse movimento é ilegal, inconstitucional e o método adotado por algumas lideranças dá vergonha", disse Hartung.

Colnago afirmou que não há condições de aumentar o salários dos policiais devido à crise financeira no país. "Estamos no limite, não vamos tratar de uma só categoria. Não há como dar aumento, desorganizar as contas e começar a atrasar salários de servidores."

Os policiais militares são proibidos pela Constituição de realizarem greves. Justiça considerou ilegal o motim e determinou o fim do movimento, mas o patrulhamento continua suspenso. No caso de descumprimento da ordem, foi fixada multa diária de R$ 100 mil às associações de policiais militares.

"O movimento [de familiares] era aparentemente espontâneo, mas não tinha nada de espontâneo. Causa estranhamento", disse Garcia, se referindo a estrutura de barracas e ao fato de o movimento ter se espalhado rapidamente em todas as unidades de polícia.

Policiais civis do Espírito Santo decidiram, em assembleia nesta quarta-feira (8), por fazer uma paralisação em Vitória. Eles também estão cogitando parar, assim como fizeram os militares.

INSEGURANÇA

Pelo terceiro dia seguido, escolas e postos de saúde amanheceram fechados nesta quarta (8) em Vitória (ES), mesmo com a presença do Exército nas ruas. O Sindicato dos Rodoviários decidiu manter os ônibus na garagem após o clima de tensão desta terça, quando o Exército teve que interferir para liberar uma avenida em frente ao Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar.

Garcia voltou a dizer que 1.200 homens das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança patrulham a Grande Vitória. Mais 650 homens serão encaminhados para a região.

O governador Hartung também falou sobre seu estado de saúde. Ele passou por um procedimento de endoscopia para retirada de um tumor na bexiga na sexta (3), em São Paulo. A recomendação dos médicos é que ele reassuma o governo na semana que vem. Hartung retornou a Vitória nesta terça. Esse foi seu primeiro pronunciamento à imprensa sobre a crise no Estado.


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