Folha de S. Paulo


'Marias' fazem linha de frente da greve de policiais militares no Espírito Santo

De repente, começa uma correria de mulheres –Marias, como cada uma delas se identificou à Folha –em frente ao Batalhão de Missões Especiais em Vitória (ES). "Vão pular o muro!"

Como os PMs são proibidos de realizar greves pela Constituição, seus familiares fazem a frente do movimento que bloqueia os batalhões e reivindica reajuste salarial de 65% até 2020.

Com isso, a categoria está parada desde a última sexta (4), o que provocou uma onda de violência que resultou em dezenas de mortes, saques e mudanças no cotidiano dos moradores da Grande Vitória.

Onda de violência no ES
PM está em greve desde o dia 3 de fevereiro

Na frente ao Batalhão de Missões Especiais em Vitória, algumas das Marias correm pelo lado de fora até outro ponto do prédio. Observam atentas a qualquer tentativa de saída dos policiais militares do prédio.

Boa parte deles, na verdade, assiste ao movimento de familiares do outro lado da rua, à paisana, para dar "segurança" ao grupo.

Na tarde desta terça-feira (7), eram cerca de 20 as mulheres, acompanhadas por quatro crianças, em frente ao portão do batalhão na capital capixaba.

Após a correria, nova confusão: um homem passa de carro, abre a porta e diz: "Gente, precisa de mulher do outro lado, entra aí". O homem, segundo as Marias, faz parte de uma associação de militares.

As associações, responsabilizadas pela falta de policiamento em uma decisão da Justiça do Espírito Santo, afirmam não ter relação com o movimento.

"Elas estão bravas com as associações porque nós negociamos com o governo, mas entendíamos o lado deles, da necessidade de ajuste", disse o major Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares do ES.

Mulheres de soldados e mesmo policiais relataram à Folha o mesmo cenário de sucateamento da PM no Estado. Além da falta de reajuste salarial, reclamam da escassez de coletes à prova de balas, de munição e até mesmo de combustível para o patrulhamento.

"A gente não tem plano de saúde, o Hospital Militar está a ponto de fechar", disse uma delas. Na 5ª Companhia do 1º Batalhão, um policial desabafa: "Nós não temos voz, ninguém dá amparo, nem a sociedade, nem o Estado". Na unidade, pinturas e reformas foram feitas por voluntários.

"Guerreiras da PM, qual é sua missão? Defender a polícia e fechar o batalhão", cantam as Marias em meio a um buzinaço.

O movimento começou no sábado (4) com sete mulheres na porta de uma unidade da PM em Serra, na região metropolitana. Com o WhatsApp e outras redes sociais praticamente todas as unidades das principais cidades do Estado passaram a ter acampamentos.

As mulheres se revezam e recebem doações. Sem uma liderança clara, nenhuma delas fala em parar o movimento. "A população está sentindo o segundo dia útil sem policiamento, mas eles têm que entender que eu tenho família", diz uma das Marias.

PM DO ESPÍRITO SANTO - Corporação está em greve desde sexta-feira


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