Folha de S. Paulo


'São agressores, são destruidores', diz Doria sobre pichadores após ataque

Em seu aniversário, São Paulo amanheceu com pichações e protestos contra o prefeito João Doria (PSDB), que respondeu endurecendo o tom contra pichadores e defendendo "multa pesada" para eles –a quem chamou de "agressores" e "destruidores".

A "guerra do spray" teve início após o tucano dizer que faria uma campanha contra pichação, e tomou corpo na semana passada, com o anúncio de que a prefeitura apagaria grafites do corredor 23 de Maio –onde antes eles formavam um painel contínuo de 5,4 km de extensão.

Pela manhã, parte do mural de Eduardo Kobra (artista frequentemente elogiado pelo prefeito) na avenida 23 de Maio, um retrato antigo da cidade em preto e branco, foi pintada de cinza –uma alusão à decisão do prefeito. Um lambe-lambe com Doria segurando um compressor foi colado à parede, como se ele fosse responsável pela tinta cinza apagando o grafite.

Doria havia apagado pichações na via duas semanas atrás, pintando-as de cinza, como parte de seu programa de zeladoria urbana. O apagamento de grafites da via foi feito na semana passada –o prefeito disse que só oito trechos seriam mantidos porque "os demais estavam envelhecidos ou mutilados por pichadores".

Na terça-feira (24), um dos trechos que haviam sido pintados de cinza foi utilizado pelo grafiteiro Iaco para escrever a palavra "respeito" e o nome de Doria 12 vezes seguidas. Em poucas horas, o protesto foi apagado.

Além de manifestações em outros muros, houve protesto na cerimônia de aniversário da cidade, na catedral da Sé. Um grupo de dezenas de jovens foi ao local dizendo que Doria pratica uma "política higienista". Em uma faixa, questionavam: "Cidade Linda para quem?", em referência ao programa de zeladoria do tucano. No local, havia ainda taxistas pró-Doria.

Os manifestantes contrários jogaram garrafas no Audi usado pelo prefeito. O motorista acelerou o carro, rasgando uma faixa do protesto.

Mais cedo, a polícia deteve o jornalista Pedro Amaral Souza, 26, por pintar de vermelho uma estátua do apóstolo Paulo, contra a qual também arremessou ovos. Ele é filho do diretor-geral do Instituto Rio Branco, José Estanislau do Amaral Souza Neto (que, procurado, não se manifestou).

Segundo o boletim de ocorrência, ele disse se tratar de "intervenção artística" e protesto "contra diversas ações políticas", "principalmente contra o prefeito". O jornalista foi liberado depois de assinar termo circunstanciado.

'PORCARIA'

Na noite anterior e até a madrugada de quarta (25), uma pichação gigante estampava o muro do estádio do Pacaembu, dizendo "Chora, Doria". As letras, que se estendiam do solo ao topo do muro, com ao menos cinco metros de altura, foram apagadas.

Os mesmos pichadores fizeram inscrições gigantes no Mube (Museu Brasileiro da Escultura) com as iniciais de sua "família" (como é chamado um grupo de pichadores), ao lado da frase "Doria bafo".

Os paulistanos Otávio e Gustavo Pandolfo (a dupla de grafiteiros conhecida como "Os gêmeos") fizeram uma pintura em homenagem à cidade de São Paulo no seu 463º aniversário. Autores de obras valorizadas no mercado, consideraram ter havido "desrespeito para com a arte". A ciclovia da avenida Sumaré, na zona oeste, foi pichada com xingamentos dirigidos a Doria.

Em resposta, o tucano afirmou que pretende discutir com a Câmara Municipal a criação de uma lei para penalizar os pichadores. "São agressores, são destruidores. Não vamos fraquejar contra os pichadores. Ou mudam de profissão ou mudam de cidade."

Doria afirmou que, no projeto de lei que discutirá com os vereadores, quer uma "multa pesada". Aqueles que não puderem pagá-la precisarão usar tinta e pincel "para limpar a porcaria" que tenham feito, segundo ele.


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