Folha de S. Paulo


Jovem é agredido pelas costas por PM enquanto gravava rap em SP

Reprodução
PM agride jovem pelas costas na comunidade de Heliópolis
PM agride jovem pelas costas na comunidade de Heliópolis, na zona sul de São Paulo

Um vídeo que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagem no início desta semana mostra um policial militar agredindo dois jovens que gravavam um clipe em frente a uma concentração de carros da Polícia Militar.

Nas imagens (veja vídeo abaixo), um rapaz canta rap enquanto outro filma. Sem motivo aparente, um homem com a farda da Polícia Militar chega por trás e atinge o rapaz com cassetete.

A Folha conversou com o jovem que gravou o vídeo. Segundo ele, a agressão foi na madrugada da última segunda (23), após a polícia dispersar um pancadão na comunidade de Heliópolis, na zona sul de São Paulo.

Conforme conta, ele e o colega, que canta no vídeo, estavam em um bar próximo ao baile e foram gravar um videoclipe com os carros da polícia ao fundo. Em seu perfil, o jovem postou uma foto da marca da pancada que tomou nas costas. Ele diz que o colega que tomou a primeira pancada não foi pego pela PM, ambos saíram correndo e escaparam.

Ele afirma que não houve qualquer interação com a polícia antes da gravação. "Não houve nem abordagem." Uma página não oficial de policiais da Força Tática, no entanto, postou o vídeo afirmando que eles atacaram objetos nas viaturas.

Vídeo circula nas redes sociais

"Pra conhecimento, a polícia tenta encontrar esses dois indivíduos que, antes desse vídeo começar, arremessaram objetos nas equipes policiais, e na data do fato não foi possível identificá-los e detê-los", diz o post na rede social.

Após comentários na publicação criticando a ação do policial, a página publicou outro vídeo, mostrando um tiroteio após um pancadão –não fica claro se o mesmo. "Essa vai pra quem defendeu o vagabundo do baile funk. Quem acha que baile funk é um evento cultural, prestem atenção na troca de tiros entre marginais. Resultado, um morto e uma pessoa em estado grave", diz a descrição.

O rapaz também afirmou sofrer ameaças. "Estamos na sua caça, logo estamos na sua porta", diz uma das mensagens que ele encaminhou à reportagem.

ANTIPOLICIAL

Na página da organizadora do pancadão, Fluxo do Helipa, o vídeo tinha mais de 5,8 milhões de visualizações na tarde desta terça. Respondendo a comentários na página que elogiavam o PM, o jovem disse que a agressão foi gratuita.

"Temos direito de ir e vir. Não tinha droga, não tinha nada de errado, a letra do mano não era nenhuma apologia contra eles. E outra ele não quiseram saber o que era aquele vídeo, só bateram. Então, na humildade, eu e o mano apanhamos por estar gravando/cantando na rua. 'Monstra' mesmo a polícia que devia servir e proteger", escreveu.

Ainda na segunda, o jovem comentou em seu perfil sobre a popularidade das imagens. "Caralho, esse vídeo tá tipo vírus na net." Um amigo comentou "vai ficar famosinho", ao que ele respondeu "quero fama não. Quero o fim da polícia militar."

Em uma imagem de capa dele na rede social, datada de junho de 2016, há uma estampa antipolicial, com desenho de um homem ameaçando bater em um guarda. É possível identificar também a sigla "ACAB", acrônimo para a frase em inglês "All Cops Are Bastards" ("todos os policiais são desgraçados") que é utilizado em manifestações contra a polícia pelo mundo.

O jovem disse à reportagem que iria procurar a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) nesta terça para denunciar as ameaças de supostos policiais. Ele desativou as suas contas em redes sociais, assim como o amigo alvo de agressão.

A Secretaria da Segurança Pública informou que a PM acionou a Corregedoria para analisar o vídeo e verificar se a agressão ocorreu em São Paulo e, em caso positivo, identificar os policiais e a data da ocorrência. "Tendo ocorrido em São Paulo, a Corregedoria da PM está à disposição dos rapazes que aparecem no vídeo para formalização de denúncia", disse, em nota, a secretaria.


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