Folha de S. Paulo


Centro de São Paulo ganha obra de megacondomínio em antiga rodoviária

Sete anos após a demolição do prédio da antiga rodoviária do centro de São Paulo para a construção de um equipamento público cultural, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou nesta segunda-feira (23) o início das obras de um condomínio com 1.202 apartamentos no local.

Batizado de Complexo Júlio Prestes, o projeto, que também prevê lojas, creche e a nova sede da Escola de Música Tom Jobim é uma das apostas do Estado para tentar revitalizar a região da cracolândia. A previsão é que ele seja concluído em três anos, mas que, no meio de 2018, parte das moradias já esteja pronta.

Especialistas ouvidos pela Folha avaliam que, para atingir seu objetivo de recuperação do entorno, a iniciativa precisará ser acompanhada de outras ações, como a melhoria na zeladoria dos arredores e boa gestão do espaço.

Em frente à Sala São Paulo, o terreno de 18 mil m² fica entre a praça Júlio Prestes e a alameda Barão de Piracicaba, onde funcionou a antiga rodoviária –de 1961 a 1982. Estão previstos quatro edifícios de 17 andares, três prédios com 12 pavimentos e um com 13.

A atual proposta surgiu após a Justiça ter anulado a contratação de um escritório, sem licitação, para construir um complexo cultural no local –cujo projeto custou R$ 53 milhões ao Estado. Questionado sobre isso, o governo diz que ainda aguarda o julgamento de recurso.

MORADIAS QUE SERÃO CONSTRUÍDAS -

MORAR NO CENTRO

A nova obra, que será tocada pela construtora Canopus, integra parte de uma PPP (parceria público-privada) inédita na habitação lançada em 2012, com previsão de construção de 3.683 moradias. As primeiras 126 unidades foram entregues no ano passado –o governo justifica a demora devido à disponibilidade de parceiros privados.

Na manhã desta segunda, Alckmin participou de cerimônia com o prefeito João Doria (PSDB) e andou por um apartamento decorado instalado no espaço. "A gente quer trazer de volta as pessoas para morar no centro e aproximar do trabalho", afirmou.

Os interessados em morar no local têm até 24 de julho para se inscrever. Os principais requisitos são ter renda familiar de um a cinco salários mínimos e ao menos um dos membros trabalhando na região central. O resultado se dará por sorteio, e as parcelas mínimas serão de R$ 239.

O projeto segue diretrizes do Plano Diretor (regras para o crescimento urbanístico de SP) aprovado em 2014. O local terá a chamada fachada ativa, com lojas no térreo e habitação em andares superiores, o que estimula a ocupação do espaço público.

ALVOS DAS VAGAS - Em %

COMPLEMENTARES

Especialistas avaliam serem necessárias ações complementares para que o espaço não seja absorvido pela degradação da cracolândia, o que facilitaria a favelização.

"Tem de ter gestão fortíssima ali. Há duas praças que precisam estar sempre iluminadas, lixo estar sempre em dia. Muitos imóveis da região viraram cortiços", diz a urbanista Regina Monteiro, que presidiu a Comissão de Proteção a Paisagem Urbana na gestão Gilberto Kassab (PSD).

Consultor em segurança e oficial da reserva da PM, o coronel José Vicente da Silva afirma ser preciso ainda um controle rígido de acesso e segurança no conjunto.

"Vamos ter de 3.000 a 5.000 pessoas, o tamanho de uma cidade pequena", diz Silva. "Em grandes unidades, é preciso de zeladoria. Senão vira um São Vito [antigo prédio do centro de São Paulo conhecido pela degradação e que foi demolido]", afirma.

O urbanista e professor da FGV Kazuo Nakano defende mecanismos para impedir que, com a valorização da região, moradores beneficiados vendam apartamentos rapidamente e voltem a morar em favelas. "O público original" dessa política de habitação, diz, não pode ser perdido.


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