Folha de S. Paulo


SP tem três mortes confirmadas por febre amarela; sobem casos em MG

Mastrangelo Reino-10.nov.2016/Folhapress
Técnico manipula vacina contra a febre amarela em Ribeirão Preto (SP)
Técnico manipula vacina contra a febre amarela em Ribeirão Preto (SP)

A Secretaria do Estado da Saúde confirmou nesta segunda-feira (23) a morte de três pessoas por febre amarela no Estado de São Paulo, sendo um caso importado de Minas Gerais e dois autóctones (transmissão local).

A pessoa que contraiu a doença em Minas Gerais, segundo a pasta, mora em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. Já as outras duas pessoas mortas moravam no interior paulista: Batatais e Américo Brasiliense. Os casos, no entanto, são todos da febre amarela silvestre, que ocorre em áreas rurais e de mata por meio de um ciclo que envolve macacos e mosquitos como o Haemagogus e o Sabethes, não presentes em áreas urbanas.

Tanto a secretaria quanto especialistas afirmam não haver motivo para pânico ou uma corrida às vacinas nas áreas não afetadas. "Se não houver deslocamento (para áreas de risco), não há nenhum motivo para tomar vacina", diz Rosana Richtmann, médica infectologista do hospital Emílio Ribas.

Apesar de extremamente eficaz, a vacina da febre amarela pode provocar efeitos adversos. O risco de danos colaterais é baixo, mas existe, e por isso a vacina não é aplicada indiscriminadamente.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Mauricio Nogueira, "o que preocupa é que tenham pessoas morando nessas regiões (de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto) que ainda não sejam vacinadas".

A Secretaria da Saúde de SP diz que 75% da população nas áreas de risco está imunizada. A vacinação impede a urbanização da doença, que é quando humanos contraem a febre após serem picados por mosquitos Aedes aegypti que já picaram alguém infectado.

De acordo com a pasta, o Estado recebeu este mês mais de 400 mil doses da vacina do Ministério da Saúde. No último semestre de 2016, foram 1,7 milhão de doses. Em dezembro, as secretarias estaduais da Saúde e do Meio Ambiente começaram a trabalhar juntas para monitorar e garantir maior agilidade na identificação de possíveis casos.

Segundo especialistas, a região fronteiriça com a área de MG onde ocorre o atual surto é vulnerável por não ser uma área vacinada. Estados como RJ e ES, portanto, devem "vigiar com muito cuidado os óbitos em primatas", diz o infectologista Carlos Magno Fortaleza, da faculdade de medicina da Unesp em Botucatu.

Fortaleza afirma ser necessário um "investimento forte" para desenvolver uma vacina mais segura –sem o risco de efeitos colaterais. "Se tivesse essa vacina, já vacinaria o Brasil inteiro e ficaríamos livres da doença".

A secretaria investiga ainda dez casos de febre amarela silvestre de pessoas que estiveram no Estado de Minas Gerais –três desses morreram. As análises são realizadas pelo Instituto Adolf Lutz, em São Paulo.

Em 2016, São Paulo registrou duas mortes ocasionadas por febre amarela silvestre: uma em abril, no município de Bady Bassit (infecção teria ocorrido na "mata dos macacos", no município de São José do Rio Preto), e outra em Ribeirão Preto, também em área próxima à mata.

FEBRE AMARELA - Casos suspeitos e confirmados da doença

Desde o ano passado até o dia 16 de janeiro, foram confirmadas 24 epizootias (situação de adoecimento ou óbito) de primatas não humanos para febre amarela, correspondente a 31 primatas, nas regiões de Ribeirão Preto, Barretos, Franca e São José do Rio Preto.

RECOMENDAÇÃO

De acordo com o ministério, 19 Estados brasileiros já têm recomendação para a vacinação, e em janeiro 650 mil doses foram distribuídas como parte da rotina do calendário nacional de vacinação.

No ano passado, segundo a Saúde, foram repassadas mais de 16 milhões de doses da vacina para todo o país, e em 2017 outras 25 milhões de doses foram compradas. O Brasil, salientou o ministério, é exportador de vacinas de febre amarela.

NO BRASIL - Evolução dos casos de febre amarela confirmados no país

A recomendação do Ministério da Saúde é que as pessoas que forem viajar para as áreas afetadas se vacinem contra a doença, mas essa não é uma obrigação, ou seja, não haverá fiscalização.

No caso de crianças até cinco anos que residam em áreas de risco ou viajarão para essas regiões afetadas, a recomendação da pasta é uma dose da vacina aos 9 meses de idade e outra dose de reforço aos quatro anos.

Para adultos que vão viajar para áreas afetadas, a recomendação é tomar vacina pelo menos 10 dias antes da viagem, caso seja a primeira vez.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que cada pessoa tome somente uma dose da vacina na vida contra a febre amarela, mas por precaução o Ministério da Saúde recomenda duas doses.

SURTO EM MINAS GERAIS

O surto de febre amarela em Minas Gerais causou uma corrida pela vacina contra a doença na rede de saúde da capital. A Secretaria Municipal da Saúde, da gestão João Doria (PSDB), disse que o número de doses aplicadas em dezembro do ano passado cresceu 13% em relação ao mesmo mês de 2015.

Nesta segunda (23), a Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais confirmou a morte de 32 pessoas em decorrência do surto da doença no Estado.

As mortes foram registradas nos municípios de Ladainha (8), Ipanema (5), Teófilo Otoni (3), Piedade de Caratinga (2), Malacacheta (2), Imbé de Minas (2), São Sebastião do Maranhão (2), Itambacuri (2), Poté (1), Conceição de Ipanema (1), Setubinha (1), José Raydan (1) e Ubaporanga (1). Além desses, uma pessoa morreu na zona rural de Januária, com provável infecção no distrito de Várzea Bonita.

Balanço da secretaria aponta 391 casos suspeitos de febre amarela silvestre no Estado, desses, 58 já foram confirmados. O Ministério da Saúde informou que já enviou ao Estado mais de 2 milhões de doses extras de vacina contra febre amarela e que 350 mil serão encaminhadas no início da próxima semana.


Colaborou SIDNEY GONÇALVES DO CARMO

Tudo sobre: o mosquito


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