Folha de S. Paulo


Obstáculos nas marginais vão de alagamento a ocupação irregular

Bruno Santos/Folhapress
Na Marginal Tietê, placas de velocidade com adesivos escondem a alteração de velocidade que será implantada por Doria
Na Marginal Tietê, placas com adesivos escondem a alteração de velocidade implantada por Doria

Ambulantes, alagamentos, buracos, fabricantes de casinhas de cachorros, pistas com tinta quase apagada e favela à beira das vias.

Sem relação com os limites máximos de velocidade, problemas como esses, observados pela Folha durante visita às marginais Pinheiros e Tietê, também precisarão ser enfrentados se a gestão João Doria (PSDB) quiser de fato torná-las mais seguras.

A equipe de transportes da nova administração prometeu um grande pacote de medidas para essas duas vias, intitulado Marginal Segura.

A principal iniciativa seria o aumento das velocidades máximas. Bandeira eleitoral de Doria, a medida que passaria a valer a partir do dia 25 foi suspensa por decisão liminar nesta sexta-feira (20).

Desde que foi anunciada, a intenção da nova gestão de pôr fim à redução de velocidades implementada por Fernando Haddad (PT) em julho de 2015 enfrentou críticas de pedestres, ciclistas e engenheiros de tráfego.

"As vias locais das marginais são muito utilizadas por ciclistas, em toda a sua extensão. Os riscos, atualmente, já são grandes. A partir do programa Marginal Segura, eles só piorariam", afirma Daniel Guth, diretor da Ciclocidade –entidade que ingressou com a ação para suspender o aumento de velocidades.

Para Ana Carolina Nunes, da Cidadeapé (Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo), os riscos para pedestres não estão nas saídas de estações de trem –foco das ações de segurança anunciadas por Doria–, mas próximos aos pontos de ônibus ao longo das marginais, principalmente aqueles ao lado de alças de entrada na via.

Na visão do consultor Horácio Figueira, mestre em engenharia de transportes, o traçado das curvas nas pistas expressas das marginais, desenhado para escoar a água da chuva para os lados e permitir a criação de acessos às pistas centrais, oferece riscos de acidentes que são agravados por velocidades maiores.

O especialista alerta ainda para o acréscimo potencial de danos físicos aos ocupantes dos veículos em uma eventual colisão sob maiores velocidades. Na pista expressa, com os limites defendidos por Doria, o risco aumentaria 65%; na central, 36%; e nas faixas da local com máximas mais altas, 44%.

ESFORÇOS

No evento de anúncio do programa Marginal Segura, o secretário de Transportes, Sergio Avelleda, disse ter convicção de que seria possível readequar as velocidades. Segundo ele, a gestão Doria fará "todos os esforços para mitigar os demais riscos hoje presentes nas marginais".

OUTRO LADO

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) afirmou na manhã deste sábado (21) que a gestão municipal vai recorrer na segunda-feira da decisão judicial que proibiu o aumento de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros.

Segundo Doria, os argumentos técnicos para a medida serão apresentados à Justiça. "Temos confianças nos estudos preparados pelos técnicos e engenheiros sob comando do Sérgio Avelleda [secretario de Transportes]".

A promessa da gestão é que os motoristas economizem até 15 minutos nas marginais com o eventual aumento de velocidade.

Especialistas, por outro lado, preveem efeito oposto: maior lentidão nas vias. "Se ocorrer, vai piorar o fluxo. Não seria em janeiro ou fevereiro, meses com menor número de veículos em circulação, mas vai acontecer", diz Horácio Figueira.

Ele explica que o fluxo máximo de automóveis em uma via expressa ocorre na velocidade média de cerca de 50 km/h, com 40 a 60 veículos por quilômetro em cada pista, respeitando-se o intervalo mínimo de segurança de dois segundos de distância entre os carros.

Com velocidades máximas mais altas, os motoristas tendem a desrespeitar essa distância segura, e se tornam mais frequentes colisões traseiras. O resultado de mais acidentes é um aumento dos congestionamentos nas vias.

No primeiro semestre do ano passado, já com limites menores de velocidade, a lentidão média nas marginais caiu 9% na comparação com igual período de 2015. Somadas as duas vias, a média de trânsito passou de 21,1 km para 19,3 km.

Os acidentes fatais, por sua vez, tiveram redução mais significativa, de quase 50%. De agosto de 2015 (primeiro mês completo com os limites mais baixos) a outubro de 2016, foram 39 acidentes com mortos nas duas marginais –38 casos a menos do que nos 15 meses anteriores.

Além das medidas da gestão Haddad (PT), especialistas citam a crise econômica como fator para menos lentidão e mortes no trânsito. Menos pessoas andam de carro devido ao preço do combustível e menos empresas fazem entregas por causa da queda na procura por seus itens.


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