Folha de S. Paulo


Exército irá às ruas de Natal após onda de ataques e guerra em prisão

Avener Prado/Folhapress
Detentos continuam rebelados na penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte
Detentos continuam rebelados na penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte

Após 38 ataques em cidades do Rio Grande do Norte em menos de 24 horas e de um novo confronto violento entre facções criminosas no presídio de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, que mantém presos rebelados desde sábado (14), o presidente Michel Temer autorizou nesta quinta (19) o envio das Forças Armadas para reforçar a segurança nas ruas.

Os militares, especialmente do Exército, vão atuar na capital potiguar, que também já tem tropas da Força Nacional, a partir deste final de semana, a pedido do governador Robinson Faria (PSD).

A disputa entre facções criminosas, que já havia deixado 26 mortos em Alcaçuz no final de semana, teve cenas de batalha campal na prisão nesta quinta, com detentos do PCC (Primeiro Comando da Capital) tentando invadir um pavilhão dominado pelo Sindicato do Crime do RN.

Editoria de arte/folhapress

Segundo a polícia, além do uso de pedras e telhas, havia armas de fogo e facões com os presos. À noite, a Secretaria da Segurança Pública do Estado confirmou que havia "mortos" -ou seja, mais de um, embora a quantidade exata não fosse revelada.

Cenas do confronto filmadas incluíram um preso armado atirando ao menos três vezes. Alguns detentos chegaram a ser removidos em carrinhos de mão para as alas.

Sem controle do presídio, policiais dispararam balas de borracha das guaritas, por mais de uma hora, na tentativa de contenção da briga.

À tarde, o governador do RN decidiu pela entrada da PM com a justificativa de "retomar a ordem do presídio".

Presos colocaram fogo em colchões e madeiras dentro de um pavilhão, agravando a destruição do espaço.

Em seguida, o Batalhão de Choque da Polícia Militar entrou em Alcaçuz, num clima de tensão devido à ameaça de confronto. A ideia do governo era que as tropas passassem a madrugada na unidade. Até a noite, não havia registro de enfrentamento com presos.

O governador disse que, com a entrada da PM, deverá ser construído um paredão, com placas de concreto, para separar os detentos rivais, até que eles sejam removidos.
Robinson Faria afirmou à Globonews que a escolha do local do presídio de Alcaçuz foi um equívoco por se tratar de uma área arenosa. "Temos que depois discutir com o departamento de engenharia, desocupar Alcaçuz, fazer uma realocação, ou interditar de vez ou fazer uma reconstrução para tornar o presídio altamente blindado, seguro."

ÔNIBUS INCENDIADOS

A transferência para outro presídio de 220 detentos do Sindicato do Crime do RN na quarta motivou uma reação dessa facção, que viu a medida como um benefício ao PCC e ordenou ataques nas ruas.

Até a tarde de quinta, criminosos haviam ateado fogo em ônibus e carros oficiais e atacado prédios do governo na capital potiguar e nas cidades de Parnamirim (região metropolitana), Caicó (250 km de Natal), João Câmara (95 km) e Macau (180 km).

O governo do Estado, que contabilizava 38 ataques (sendo 22 contra ônibus), diz que a estratégia de provocar medo fora dos presídios é a mesma de rebeliões de 2016, em ações da mesma facção.

Antes de atender ao pedido de envio do Exército para as ruas, Temer conversou com o ministro Raul Jungmann (Defesa), que ficará responsável pela logística da atuação das Forças Armadas.

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"Quando uma unidade da Federação não tiver condições de manter a ordem pública e a segurança, seja por insuficiência, incapacidade ou impossibilidade das forças de segurança e da ordem, o governador poderá solicitar apoio do presidente da República", afirmou Jungmann.

Na quarta, o governo do RN, assim como os do AM e de RR, já havia pedido a ação das Forças Armadas na varredura dos presídios –medida avalizada por Temer e que será implantada em seguida. Não haverá, porém, contato dos militares com detentos.

DESCONTROLE

Em Alcaçuz, já não havia mais divisões físicas entre os presos, que circulavam por suas áreas no presídio.

Agentes penitenciários não tinham acesso ao espaço. A alimentação chegava com cordas –um preso da cozinha subia numa guarita e puxava sacos de comida.

Uma decisão da Justiça chegou a impedir a transferência de 110 presos para Alcaçuz na noite de quarta, como pretendia o Estado. A juíza responsável alegou "sérios riscos de morte" para barrar a entrada dos detentos.

Detentos mortos em 2017

(DÉBORA ÁLVARES, LEANDRO MACHADO, GIBA BERGAMIN JR., FERNANDA PEREIRA NEVES E LAÍS ALEGRETTI)


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