Folha de S. Paulo


Temer sabia de tensão entre facções desde a Olimpíada do Rio, diz ministro

O governo federal acompanhava, já no meio do ano passado, a ampliação da disputa entre as facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), no Brasil e também fora do país, de acordo com o ministro Raul Jungmann (Defesa).

Segundo ele, no período da Olimpíada, o governo já tinha conhecimento do acirramento da disputa e já esperava ter de intervir. "Ficou evidente que haveria necessidade de uma resposta", disse.

Diante desse quadro, segundo Jungmann, já havia uma expectativa de que os militares fossem acionados a agir, mas o governo não sabia que o conflito iminente eclodiria nos presídios. "Não sabíamos o dia ou exatamente o que viria, mas sabíamos que seríamos convocados a colaborar", afirmou.

"Ali [durante a Olimpíada] nós já sabíamos que você tinha processo de nacionalização do Comando Vermelho e do PCC. Chegavam informações de que o PCC estava disputando mercado de produção do Paraguai. O PCC e o CV foram aliados e depois romperam na disputa de mercado."

O ministro afirmou que começou um "processo de retaliação" dentro dos presídios, já que é lá que ficam os comandantes das facções. "Onde o PCC é mais poderoso ele retalia o CV. [...] Onde o CV é mais forte que o PCC, acontece o inverso. Essa disputa acontece nessas duas quadrilhas que se nacionalizaram e que estão se internacionalizando", afirmou Jungmann.

A Folha apurou que esse acompanhamento foi feito durante a Olimpíada principalmente porque o governo temia que grupos terroristas estrangeiros cooptassem as facções. Isso não ocorreu, na avaliação de uma fonte das Forças Armadas, porque o interesse das fações brasileiras é "dinheiro", e não "terror".

Na semana passada, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse em entrevista à Folha que a imprensa superestima a força das facções. "Não subestimamos a força de nenhuma facção, mas talvez a imprensa superestime", declarou.

Em outubro de 2016, quando houve uma primeira rebelião com mortes em uma prisão de Roraima e o governo local atribuiu o episódio à disputa entre PCC e CV, Moraes minimizou.

"Às vezes, há mera bravata entre as pessoas que fazem a rebelião. Fora isso, não há nada que indique essa coordenação em vários Estados. [...] A nossa inteligência está em contato com as dos Estados para verificar, mas, por ora, não há nada que indique que há algo coordenado em relação a isso", afirmou na ocasião.

Questionado nesta quinta (19) sobre as declarações de Jungmann, Moraes informou, por meio de sua assessoria, que prefere não comentar declarações de outros ministros.

Colaborou REYNALDO TUROLLO JR., de Brasília

A repórter LAÍS ALEGRETTI viajou a convite do Ministério da Defesa


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