Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Forças Armadas na segurança tem apelo, mas é caro e pouco eficaz

O emprego das Forças Armadas na segurança tem muito apelo popular, mas é dispendioso e pouco eficaz. Nas últimas décadas, vários governos usaram esse recurso quando a situação apertou. Todas as vezes, os soldados entraram, saíram, e a situação continuou igual.

O caso mais emblemático ocorreu no governo Fernando Henrique, quando o Exército invadiu morros cariocas. Os traficantes apenas mudaram provisoriamente os pontos de droga.

Essas operações criam mais problemas do que resolvem. Além do aumento dos casos de corrupção, a proximidade com o mundo do crime já levou alguns militares a atitudes criminosas. O maior escândalo foi em 2008, quando um oficial do Exército entregou três jovens do morro da Providência para traficantes rivais, que os executaram.

Desta vez, os soldados serão empregados dentro dos presídios, para ajudar nas "inspeções em busca de materiais proibidos". Só quem nunca esteve numa cadeia pode acreditar que alguém não treinado, que desconhece o sistema, pode desmontar organizações criminosas. Mesmo a polícia militar tem problemas em trabalhar dentro das grades. É outro mundo, que desnorteia os de fora.

Uma solução mais racional seria a Força Nacional, que ao contrário do Exército é constituída por policiais experientes, muitos com prática no sistema prisional. O problema é que ela está pulverizada, atuando em vários Estados. Numa crise dessa envergadura, porém, eles poderiam ser novamente agrupados e enviados para onde é necessário rapidamente.

Se nos períodos de crise os governos utilizam remendos, durante a bonança não implementam as mudanças estruturais que a segurança necessita. Mais urgente é discutir as falhas de nosso sistema policial, a lentidão do Judiciário e um sistema prisional que, além de punir, recupere.

GUARACY MINGARDI é analista criminal e ex-diretor da Secretaria Nacional de Segurança Pública


Endereço da página:

Links no texto: