Folha de S. Paulo


Ao ser detido em reintegração, Boulos diz que PM citou ato em casa de Temer

Peter Leone/Futura Press/Folhapress
Guilherme Boulos durante ato contra reintegração de posse na zona leste de São Paulo
Guilherme Boulos durante ato contra reintegração de posse na zona leste de São Paulo

Detido nesta terça (17) durante uma reintegração de posse , o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, afirma que desde a participação em um protesto em frente à casa do presidente Michel Temer, em São Paulo, no ano passado, a polícia "estava de olho em mim".

A reintegração de posse aconteceu em um terreno, chamado de Colonial, em São Mateus, na zona leste de São Paulo, onde cerca de 700 famílias ocupavam irregularmente a área.

Segundo o colunista da Folha, os policiais informaram que ele estava sendo detido por incitação à violência, descumprimento de ordem judicial e por violência contra a polícia durante uma manifestação na porta da casa de Temer em São Paulo.

Guilherme Boulos, líder do MTST, fala sobre suposta perseguição da polícia

O líder do MTST foi levado para o 49° DP (São Mateus). O advogado de Boulos, Felipe Vono, afirmou que, antes do despejo, ele tentou negociar com os policiais para que a ação fosse adiada. "Não houve desobediência, outras seis pessoas participavam da conversa", afirma Vono.

"O companheiro Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, que estava acompanhando a reintegração de posse da ocupação Colonial, visando garantir um desfecho favorável para as mais de 3.000 pessoas da ocupação, acaba de ser preso pela PM de São Paulo sob a acusação de desobediência civil", publicou o movimento em sua rede social.

O MTST diz ainda que Boulos estava o tempo todo procurando uma mediação para o conflito. "Não aceitaremos calados que além de massacrarem o povo da ocupação Colonial, jogando-o nas ruas, ainda queiram prender quem tentou o tempo todo e de forma pacífica ajudá-los."

Durante a reintegração de posse houve confronto entre a polícia e as famílias do terreno ocupado. Por volta das 8h50, os moradores chegaram a colocar barricada em uma via para impedir o avanço da polícia, que usou bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta para dispersar os manifestantes.

Às 9h40, a Polícia Militar informou que as famílias haviam se dispersado e já era realizada a retirada do móveis para, depois, fazer a limpeza do terreno.

PERSEGUIÇÃO

Guilherme Boulos acusa a Polícia Militar de perseguição. "Foi uma prisão política. Eles alegaram incitação à violência. Eles despejam 700 famílias com violência e eu que incitei a violência", disse, após ser ouvido na delegacia.

O militante afirma que os policiais atribuíram a ele atos que não praticou. "O MTST estava lá para garantir o direito das pessoas que estavam sendo despejadas, buscar uma saída negociada. A Tropa de Choque avançou, jogou bombas e querem encontrar um culpado."

Boulos diz ainda que um capitão da PM justificou sua prisão citando atos anteriores. "Ele se referiu a outras manifestações do movimento, em especial uma, em frente à casa do [presidente] Michel Temer, em que ele também comandava a Tropa de Choque naquela ocasião em que houve um conflito com o MTST."

A prisão ocorre após Boulos ser criticado pelo secretário estadual de Habitação do governo Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Garcia (DEM), que afirmou, em entrevista à Folha, que o MTST foi favorecido durante a gestão de Fernando Haddad (PT).

Dias depois, o ex-secretário João Sette Whitaker, da gestão Haddad, disse à Folha que há movimentos de sem-teto de fachada criados por criminosos.

"O que eu vejo é que há no país um movimento de criminalização dos movimentos sociais. Há uma tentativa de desmoralizar os movimentos, [dizendo que] movimento quer favor, quer vantagem, e descaracterizando a luta por direitos. Essa desmoralização prepara o terreno para a criminalização", disse.

CRÍTICAS

A prisão do líder sem-teto gerou reação entre políticos e artistas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em seu perfil no Facebook que a luta por moradia "não é caso de polícia". "Toda a solidariedade ao companheiro Guilherme Boulos", escreveu.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) declarou que a prisão de Boulos é "inaceitável".

Passaram pela delegacia em que o coordenador do MTST está detido políticos como o deputado federal Ivan Valente (PSOL) e o vereador Eduardo Suplicy (PT).

Segundo Valente, Boulos já foi ouvido e poderia ter sido liberado. O delegado, diz ele, já disse que liberaria o líder dos sem-teto, mas só depois de ouvir todas as testemunhas.

Para o deputado, a prisão de Boulos foi uma "provocação" e a polícia está dando "um chá de cadeira" no ativista.

O rapper Emicida também usou as redes sociais para falar do caso. Afirmou que o país está "transformando descaradamente lutar por um país igual num crime".

BARRICADAS

Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que, "após tentativa de negociação dos oficiais com as famílias, sem acordo, os moradores resistiram hostilizando os PMs, arremessando pedras, tijolos, rojões e montando três barricadas com fogo".

De acordo com a pasta, um policial ficou levemente ferido "por uma bomba caseira" e dois carros da Tropa de Choque ficaram danificados. "A PM agiu para garantir o cumprimento da ordem judicial", diz o texto da nota.

Sobre os líderes do MTST presos, a secretaria informou que Guilherme Boulos e José Ferreira Lima foram "acusados de participar de ataques com rojão contra a PM, incitação à violência e desobediência".

Colaborou SIDNEY GONÇALVES DO CARMO, de São Paulo


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