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Base da Polícia Militar no Rio Grande do Norte é atacada a tiros

Avener Prado/Folhapress
ALCACUS, RN, BRASIL, 16-01-2017: Presos rebelados na Penitenciária Estadual de Alcaçuz. (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO) Código do Fotógrafo: 20516 ***EXCLUSIVO FOLHA***
Presos rebelados na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, região metropolitana de Natal

Uma base da Polícia Militar do Rio Grande do Norte foi atacada a tiros nesta segunda-feira (16) no bairro Mãe Luiza, uma favela que fica próxima à via Costeira, corredor turístico de Natal.

O local fica entre o centro da capital e Ponta Negra, região com praias turísticas da cidade. No início deste mês, Natal recebe enorme quantidade de turistas em suas praias.

A base da PM foi atacada durante a madrugada –foram pelo menos 20 tiros, mas ninguém ficou ferido. Policiais investigam se o ataque pode estar ligado ao massacre de ao menos 26 presos no presídio de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal.

A chacina ocorreu após presos do PCC invadirem uma área dominada pelo Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte. O bairro de Mãe Luiza é conhecido na cidade por ser dominado pela facção Sindicato do Crime.

O secretário da segurança do Rio Grande do Norte, Caio Cesar Bezerra, diz acreditar que o ataque não tem ligação com as rebeliões, mas que a polícia vai investigar. "Vamos prendê-los", disse.

MASSACRE EM ALCAÇUZ

A rebelião em Alcaçuz no fim de semana foi motivada por uma briga nos pavilhões 4 e 5 do presídio envolvendo as facções PCC e Sindicato do Crime. Segundo o governo, todos os mortos são ligados ao Sindicato do Crime. Houve uma invasão de um pavilhão por presos inimigos, o que deu início ao motim.

Nesta segunda-feira os presos voltaram a realizar um motim e até o fim do dia a situação ainda era tensa.

A matança é mais um capítulo da crise penitenciária no país: é o terceiro massacre em presídios em apenas 15 dias. No total, 134 detentos já foram assassinados somente neste ano, 36% do total do ano passado, quando 372 presos foram mortos.

O trabalho de identificação dos corpos começará nesta segunda e deve seguir por 30 dias, diz o governo –em Roraima, onde um motim deixou 33 mortos no dia 6, o governo demorou pouco mais de um dia para divulgar uma lista com os nomes de 31 vítimas. Dois dos presos mortos no Rio Grande do Norte foram carbonizados e todos os outros foram decapitados.

Segundo o diretor do Itep (Instituto Técnico Científico de Perícia), Marcos Brandão, não há marcas aparentes de perfuração por balas nos corpos, apenas por instrumentos cortantes –ainda é preciso fazer necropsia nos corpos para identificar as causas de morte. Agentes encontraram dentro do presídio uma pistola caseira, de um cano feita manualmente, e granadas não letais, que não foram usadas, segundo o governo.

MORTES EM PRESÍDIOS

Com mais essas 26 mortes, o número de assassinatos em presídios pelo país chega a 134 casos nas primeiras duas semanas do ano. As mortes já equivalem a mais de 36% do total registrado em todo ano passado. Em 2016, foram ao menos 372 assassinatos –média de uma morte a cada dia nas penitenciárias do país. O Estado do Amazonas lidera o número de mortes em presídios com 67 assassinatos, seguido por Roraima (33).

No dia 1° de janeiro, um massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) deixou deixa 56 mortos em Manaus (AM), após motim que durou 17 horas. No dia seguinte, mais quatro detentos morrem na Unidade Prisional de Puraquequara (UPP), também em Manaus.

Seis dias depois, uma rebelião na cadeia de Raimundo Vidal Pessoa deixou quatro mortos. Logo em seguida, três corpos foram encontrados em mata ao lado do Compaj. Com isso, subiu para 67 o total de presos mortos no Amazonas.

No dia 4 de janeiro, dois presos são mortos em rebelião na Penitenciária Romero Nóbrega, em Patos, no Sertão da Paraíba. Dois dias depois, 33 presos são mortos na maior prisão de Roraima, a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista.

Na tarde de quinta (12), dois detentos foram mortos na Casa de Custódia, conhecida como Cadeião, em Maceió (AL). O presídio, destinado a abrigar presos provisórios, fica dentro do Complexo Penitenciário, em Maceió (AL). Jonathan Marques Tavares e Alexsandro Neves Breno estavam nos módulos 1 e 2 da cadeia, respectivamente.

No mesmo dia, dois presos foram mortos em São Paulo, na Penitenciária de Tupi Paulista (a 561 km da capital paulista). A Secretaria da Administração Penitenciária informou que eles morreram durante uma briga em uma das celas.

Neste domingo (15), uma fuga na Penitenciária Estadual de Piraquara, no Paraná, deixou dois mortos. Um grupo explodiu, pelo lado de fora, um muro da penitenciária, que concentra membros da facção PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo agentes penitenciários ouvidos pela Folha.


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