Folha de S. Paulo


Secretário de Crivella planeja revistar ônibus que parem na orla da zona sul

O novo secretário de Ordem Pública do Rio de Janeiro, coronel Paulo Amêndola, 72, conhecido por ser linha-dura, quer aumentar a repressão nas praias da zona sul da cidade durante o verão.

Uma das principais medidas, disse, em entrevista à Folha, será a revista de passageiros de ônibus que saltam nas praias da zona sul.

Hermes de Paula - 8.jan.2017/Agência O Globo
Policiamento na orla de Ipanema neste domingo (8), no Rio; secretário quer aumentar repressão nas praias da zona sul
Policiamento na orla de Ipanema neste domingo (8), no Rio

Ele afirma que o transporte "despeja" pessoas na orla. Após ser questionado sobre a conotação pejorativa desse termo, afirmou: "despejar é um termo comum, popular, sem demérito às pessoas que estão ali. Nós, policiais, tratamos dessa forma".

Para Amêndola, quanto mais gente, mais problemas. "Tem pessoas que querem apenas o lazer mas tem também marginais, delinquentes, ladrões. Quanto a estes, haverá repressão." Segundo ele, reuniões com o Judiciário estão sendo feitas para definir formas legais de atuação, para não haver discriminação.

O novo secretário diz acreditar que as obras de transporte feitas na cidade nos anos que antecederam a Olimpíada permitiram que pessoas que moram longe das praias pudessem frequentá-las, o que, a seu ver, tem relação com os índices de crime no verão de 2016, marcado por um clima de insegurança na orla.

Na medida planejada por Amêndola, passageiros serão revistados ao desembarcar em pontos finais próximos às praias da zona sul. Se estiverem com armas brancas ou de fogo, serão encaminhados à delegacia. Se estiverem sem dinheiro e sem documentos, se tornarão suspeitos.

"Os ônibus vão chegando, despejando pessoas nas praias, e grupos de policiais vão revistar as pessoas, ver se estão armados, verificar se têm documentos. Tem menores de idade que saltam na zona sul sem dinheiro. Como vão voltar? Vão roubar de alguém! Ou dar calote. Os guardas nas areias estarão de olho nessas pessoas."

O secretário pretende também que a guarda use spray de pimenta e arma de choque, mas apenas em casos de legítima defesa –se um guarda for agredido por um suspeito– ou se uma agressão for testemunhada. Questionado sobre os limites do uso desses materiais, afirmou que "no treinamento se ensinam, além do manuseio técnico, as condições legais que permitem o emprego desse material".

Amêndola não quis opinar sobre o uso de arma de fogo pela guarda, um dos temas mais discutidos durante a eleição. O prefeito Marcelo Crivella (PRB) já se manifestou contra tal uso. "Sou militar, tenho disciplina. Se o prefeito não quer, mesmo que fosse favorável, não daria minha opinião. Se a guarda fosse transformada em polícia municipal, aí, sim, teríamos que falar em ter arma de fogo."

Segundo ele, durante o verão haverá 62 guardas treinados para ação em praia por turno. Nos finais de semana serão 220 guardas nas praias, além do efetivo da PM. "Acredito que, com isso, teremos paz nas praias neste verão."

Amêndola é membro da Polícia Militar desde 1974. Chegou a ser citado como envolvido no sequestro e morte do jornalista Alexandre von Baumgarten, mas sua participação não foi comprovada. Seu nome constava na agenda de telefone do sargento Guilherme Pereira do Rosário, morto na explosão da bomba do Riocentro em 1981, segundo reportagem do jornal "O Globo" de 2011.

Filiado ao PRB, o coronel foi condenado na década de 1980 por sequestro e tortura ao cobrar um cheque sem fundo de um devedor, segundo o "Jornal do Brasil". A pena acabou prescrita. Na polícia, fundou o Nucoe (Núcleo de Operações Especiais) da PM, que deu origem ao Bope (Batalhão de Operações Especiais).


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