Folha de S. Paulo


Nova rebelião tem 4 mortos no AM; 3 corpos são achados em outro presídio

Uma nova rebelião no sistema penitenciário do Amazonas deixou ao menos quatro presos mortos na madrugada deste domingo (8). Desses, três foram decapitados, e um foi morto por asfixia. O motim ocorreu na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus.

Integrantes do governo chegaram a apresentar uma lista com seis nomes de presos levados ao IML, mas até agora somente quatro corpos foram entregues no Instituto Médico Legal de Manaus. Segundo o governo do Estado, os presos "iniciaram uma briga por motivo desconhecido" e todas as vítimas foram mortas pelos próprios internos.

Também na manhã deste domingo, em Manaus, equipe do IML encontrou mais três corpos em mata ao lado do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o maior do Amazonas, onde ocorreu a matança entre domingo (1) e segunda (2). Com isso, sobe para 67 os presos mortos somente neste ano no Amazonas e para 102 em todo o país –mais 33 em Roraima e outras duas na Paraíba.

A cadeia palco do motim desta manhã estava em péssimas condições e, após ter sido desativada, foi reaberta às pressas pelo governo do Amazonas nesta semana para abrigar 283 detentos após a matança de 59 presos no maior presídio do Amazonas. Utilizada pelo governo por mais de cem anos, a cadeia Desembargador Raimundo Vidal Pessoa foi desativada em outubro passado após pressões do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Foram levados para lá, sem nenhum tipo de separação por alas, presos ligados à facção criminosa PCC, que são minoria no Estado, e outros sem facção que estavam no chamado "seguro", como se chamam nos presídios as celas destinadas aos presos ameaçados pelo restante dos detentos.

Para o secretário estadual da Segurança Pública, Sergio Fontes, a rebelião não foi motivada por briga entre facções. "Todos [presos] eram ameaçados e não tinham convivência em outros presídios." No início da semana, após a transferência, a unidade chegou a registrar um princípio de tumulto nesta última quinta-feira (5).

Neste domingo, a rebelião teve início por volta da 1h (3h, pelo horário de Brasília). No momento das mortes, só havia dois agentes penitenciários no local, segundo informou Rocinaldo Silva, presidente do sindicato dos servidores penitenciários do Estado. A Folha solicitou e aguarda um posicionamento do governo do Amazonas.

Vídeo mostra prisão de Manaus

Em frente à cadeia, familiares dos presos fazem vigília. Sem exata informação sobre os mortos, um grupo de mulheres tentou bloquear as avenidas Duque de Caxias e 7 de Setembro, que dão acesso à unidade prisional. Mais cedo, a polícia chegou a atirar spray de pimenta contra um grupo de familiares que protestava no local.

Mulheres dos detentos ouvidas pela reportagem disseram que seus maridos presos na unidade chegaram a mandar mensagens pelo celular informando que o local passava por uma rebelião nesta madrugada.

Os novos assassinatos de detentos no Amazonas neste domingo aprofunda ainda mais a crise penitenciária em que o país enfrenta desde o dia 1º deste ano. Até o momento, já são 102 presos mortos dentro do sistema prisional: AM (69), RR (33) e PB (2).

familiares protestam em Manaus

Por volta das 6h, o motim já estava "totalmente sob controle", informou Pedro Florêncio, secretário de Administração Penitenciária, do Amazonas.

Homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar, acompanhados de cães farejadores, estão na unidade para fazer a contagem de presos e normalizar o funcionamento da cadeia. Os corpos das vítimas foram encaminhados para o IML (Instituto Médico Legal) e ainda não foram identificados.


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