Folha de S. Paulo


Temer mantém silêncio após maior matança de presos desde o Carandiru

Quase três dias após o massacre de presos no Amazonas, o presidente Michel Temer mantém silêncio público e não se pronunciou oficialmente sobre a matança que vitimou 56 pessoas na segunda-feira (2).

A demora do peemedebista não se verificou, contudo, na chacina ocorrida no sábado (31) em Campinas (a 93 km de São Paulo) que deixou 12 pessoas mortas. No dia seguinte, ele fez questão de lamentar o ocorrido nas redes sociais e manifestar pesar às famílias envolvidas.

Nesta quarta-feira (4), até o papa Francisco lamentou o massacre e pediu que "as condições de vida dos detentos sejam dignas de pessoas humanas".

Massacre em Manaus
Fachada da penitenciária Anísio Jobim, em Manaus

Na segunda, questionado pela Folha, o Palácio do Planalto informou que o Ministério da Justiça se pronunciaria sobre o ocorrido.

No mesmo dia, o ministro Alexandre de Moraes divulgou uma nota pública informando que entrou em contato com o governador do Amazonas, José Melo, e ofereceu reforço das Forças Nacionais.

Segundo a Folha apurou, apesar de ter telefonado para José Melo no dia do ocorrido, o presidente avalia que se trata de uma questão de segurança pública e que não caberia um posicionamento público seu.

O incidente, contudo, criou uma crise no sistema penitenciário brasileira e o receio do Palácio do Planalto de que integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) iniciem uma série de retaliações em outras unidades prisionais do país, uma vez que a maioria dos mortos são da facção criminosa.

A rebelião foi motivada por uma briga entre as facções Família do Norte e PCC. De acordo com as investigações, ela foi comandada pela Família do Norte.

TEMER E O CARANDIRU

Os dias seguintes ao massacre do Carandiru, em outubro 1992, também foram de espera por explicações da polícia e demora em declarações oficiais. O governo paulista foi pressionado por não conseguir apresentar um balanço confiável do número de mortos. Além disso, o então governador, Luiz Antônio Fleury Filho, e seu secretário de Segurança, Pedro Campos, foram criticados pela demorar de 72 horas para comentarem o assunto.

Reprodução
Reprodução da capa da Folha, no dia 8 de outubro de 1992
Reprodução da capa da Folha, no dia 8 de outubro de 1992

A crise no governo paulista levou à queda do secretário de segurança. Fleury então escolheu como substituto para o cargo o então Procurador Geral de São Paulo, que era justamente o atual presidente Michel Temer.

Temer já havia sido secretário de Segurança no governo Montoro, entre 1984 e 1986. Em seu primeiro dia como secretário após o massacre do Carandiru, afirmou: "Meu estilo é do diálogo".


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