Folha de S. Paulo


Praça da av. Nove de Julho passa por faxina antes da visita do 'gari Doria'

Zanone Fraissat/Folhapress
SAO PAULO/SP BRASIL. 01/01/2017 - Praca 14 bis na regiao central da cidade um dia antes da operacao Cidade Linda, do prefeito João Doria.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, COTIDIANO)***EXCLUSIVO***
Praça 14 Bis, no centro, um dia antes da operação Cidade Linda, do prefeito João Doria

No início da manhã desta segunda-feira (2), quando o prefeito João Doria (PSDB) se vestiu com um uniforme de gari e esteve com uma vassoura em mãos, pouca coisa havia para ele e seus secretários limparem na praça 14 Bis, na região central de São Paulo.

Isso porque, antes de ele mesmo varrer, o prefeito mandou varrerem por ele.

Ações da Cidade Linda, programa de zeladoria urbana de Doria, já tiveram início neste domingo (1º), desde cedo, no mesmo local anunciado pelo prefeito como aquele em que ele faria a faxina.

Funcionários de empresas prestadoras de serviço da prefeitura pintaram parte do viaduto sobre a praça, taparam buracos, reformaram sarjetas, recolheram entulho que estava espalhado ali havia vários dias, cortaram a grama e podaram árvores na avenida Nove de Julho, entre a marginal Pinheiros e o vale do Anhangabaú.

A gestão municipal diz que o trabalho envolve 1.291 pessoas, e o mutirão continuou nesta segunda com a presença de Doria e de secretários, também vestidos de gari.

Durante a hora em que estiveram na praça, eles se depararam com os 55 moradores de rua que vivem sob o viaduto Dr. Plínio de Queirós –número estimado por uma assistente social que trabalha ali–, parte dos quase 16 mil que circulam na cidade, segundo o último censo, de 2015.

Neste domingo, kombis da prefeitura –recém-adesivadas com o nome do programa de Doria, Cidade Linda, e um "SP" dentro de um coração– circulavam pela Nove de Julho. Na ressaca do Ano Novo, moradores de rua observavam, de suas barracas, toda essa movimentação.

As barracas estão espalhadas ao longo do viaduto e se concentram na praça 14 Bis, ao lado de carroças, sofás, fogões improvisados, colchões, papelão, entulho. Há famílias que moram em uma parte do viaduto que é cercada –para entrar ali, há uma porta, que primeiro dá para uma quadra de futebol. Outros moradores entram e saem por meio de buracos na cerca.

Seus pertences não foram tocados pelos funcionários da prefeitura –mas os moradores, ao ouvir que Doria limparia a praça, relatavam temer ser expulsos dali.

De manhã, Joas Barbosa Santiago, 32, afastou sua barraca para que a tinta usada para pintar o viaduto não respingasse nela. "Isso é uma fachada. Não adianta vir aqui e só limpar o que já vai estar limpo", reclamava ele. "E a gente vai para onde? Ele vai dar moradia para nós?"

Uma assistente social da prefeitura que não quis ser identificada também reclamava da situação, dizendo que o prefeito deveria ver a sujeira que está lá no dia a dia e limpar "de verdade".

Do seu lado, a motorista Vera Lúcia de Santis, 57, que mora em um prédio na av. Nove de Julho e costuma conversar com os moradores de rua, falava que estavam "maquiando a praça para a chegada do Doria". "É para inglês ver."

Segundo a assessoria do tucano, "alguns serviços da Operação Cidade Linda levam vários dias para serem concluídos" e, por isso, "muitos deles começaram neste domingo". O programa terá ações "contínuas e regulares" e seu objetivo "é a melhora na zeladoria urbana e o resgate da autoestima do paulistano". Mutirões acontecerão nos próximos fins de semana nas avenidas Paulista, 23 de maio, Santo Amaro e Tiradentes.

GARI

Em um discurso neste domingo, Doria destacou a ação, dizendo que ele e os secretários estarão vestidos de gari "como gente simples que serve a cidade e que recebe seu salário para preservar e manter nossa cidade".

"Vamos ali dar uma demonstração de humildade, de igualdade e de capacidade de trabalho", afirmou.

Quando seu vice, Bruno Covas (PSDB), anunciou a atividade "simbólica", um vereador gritou do plenário: "Mas vai ser todos os dias?"

Para um gari que trabalha na região, "pelo menos Doria vai ver como é difícil o trabalho". "Dos prefeitos que entraram, ninguém fez isso ainda, né? É bom", disse ele.

Nesse trecho da Nove de Julho, duas equipes de dois garis fazem a varrição, uma de manhã e outra à tarde, diariamente.

Outro gari diz que ele deveria priorizar outras coisas, como "construir hospital". "Ele vai limpar essa sujeira para essas pessoas [aponta para os moradores de rua]? Eu limpo porque sou obrigado." Um terceiro gari, que faz a limpeza de uma feira e diz ter votado em Doria diz que sua ação é positiva. "Ele vai tentar. É uma experiência. Ele vai ver como é trabalhar sob um sol de 40ºC, e vai ver que não é nada fácil."

Colaborou GIBA BERGAMIM JR


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