Folha de S. Paulo


Doria assume SP, promete conciliação e diz que recuará quando necessário

Ao assumir a Prefeitura de São Paulo neste domingo (1º), João Agripino da Costa Doria Junior (PSDB), 59, disse que administrará a cidade para todos os paulistanos, prometeu atitude, conciliação e humildade e que tratará os pobres como prioridade da gestão.

O tucano usou o evento para exaltar seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), como um exemplo que seguirá. O prefeito disse que não terá medo de recuar quando julgar necessário e que é preciso administrar com ousadia. "Ninguém louva os covardes." Ele inovou ao fazer a cerimônia no Theatro Municipal de São Paulo. Tradicionalmente, o evento ocorre na própria prefeitura.

O prédio foi cercado. Poucos paulistanos apareceram para tentar acompanhar a cerimônia do lado de fora. O tucano, 62º prefeito da maior cidade do país, também discursou na Câmara Municipal, onde acompanhou a posse dos 55 vereadores. "Todos que vivem nesta cidade, brasileiros e não brasileiros, vão merecer o nosso respeito, e o respeito de uma gestão conciliadora", disse.

"Uma gestão que saberá ouvir e que terá humildade também, seguindo o exemplo do governador Geraldo Alckmin, de sempre que necessário, e for comprovadamente necessário, recuar para poder avançar. Isto é prova de grandeza", completou.

Ao final da fala no teatro, Doria disse que colocará São Paulo nos "trilhos" e emendou: "Com Geraldo Alckmin vamos colocar o Brasil nos trilhos", lançando novamente o aliado à Presidência. Nos dois discursos, todos de improviso, o novo prefeito passou quase a metade do tempo com série de agradecimentos.

Nada falou sobre crise econômica, repetiu frases de efeito e reservou uma única frase sobre suas prioridades de governo, quando prometeu foco em saúde, educação, mobilidade, habitação e segurança pública. "Prioridade será aos mais humildes e mais pobres da nossa cidade", afirmou.

A cerimônia durou cerca de duas horas e foi encerrada com o "Tema da Vitória", música que se tornou célebre com Ayrton Senna.

Chamada Doria

PROMESSAS

A gestão tucana terá 22 secretarias –sob Fernando Haddad, 53, a prefeitura tinha 27 pastas. Entretanto, terá um gasto extra em 2017 criado por ele mesmo um dia após a eleição, quando anunciou o congelamento da tarifa de ônibus em R$ 3,80 ao longo de 2017.

O valor repassado pela prefeitura às viações de ônibus para cobrir a diferença entre o que os passageiros pagam e os custos reais dos serviços deve passar dos R$ 3 bilhões neste ano, ante ao menos R$ 2,5 bilhões de 2016.

Empresário e jornalista, o tucano foi eleito em primeiro turno com 3,1 milhões de votos (53% dos válidos) e assumiu o cargo com ao menos 118 promessas a serem cumpridas até o final do mandato de quatro anos –a Folha criou uma ferramenta on-line para que o eleitor paulistano possa acompanhar cada um desses compromissos.

A partir deste domingo, Doria terá o duplo desafio de colocar em prática o gestor propagandeado nas eleições e transformar a capital em vitrine para seu principal cabo eleitoral, Alckmin, pré-candidato à Presidência em 2018.

Na campanha, fez promessas ousadas. Por exemplo: acabar, em um ano, com as filas por vagas nas creches (são 133 mil crianças de zero a três anos à espera de matrícula) e por exames de saúde (são 417 mil no aguardo).

Há também compromissos polêmicos. Um deles, já com data para começar, será o aumento das velocidades máximas das marginais Tietê e Pinheiros (para 90 km/h, 70 km/h e 60 km/h nas pistas expressa, central e local) a partir de 25 de janeiro, no aniversário de 463 anos da cidade.

Os limites das vias foram baixados por Haddad em julho de 2015, com o objetivo de reduzir acidentes viários e melhorar a fluidez. Desde então, os acidentes com mortes caíram pela metade, e a marginal Tietê completou 19 meses sem atropelamentos fatais.

Neste domingo, no teatro, onde recebeu o bastão de Haddad, o novo prefeito elogiou o antecessor pela transparência nos dois meses de período de transição. Disse que isso fará parte de seu "legado" como prefeito da cidade de São Paulo.

Doria repetiu que não será candidato à reeleição "em qualquer circunstância". Nas falas de domingo, voltou a usar uma expressão de campanha. "Sou gestor. Farei gestão à frente da cidade de São Paulo. No executivo serei um administrador da cidade."

Doria ainda também que, em seu mandato, vai despachar todos os meses com os vereadores. E fez uma provocação: "Tenho certeza que o Legislativo dará demonstrações claras de respeito à transparência e à ética". Dos 55 vereadores, ao menos 38 deles devem integrar a base de apoio da gestão tucana. A oposição, ao menos neste início de mandato, será quase simbólica, com 11 nomes, sendo 9 do PT e 2 do PSOL.

Nos discursos, Doria repetiu que, nesta segunda (2), a partir das 6h, ele e seus secretários estarão com roupas de garis para limpar as imediações da av. Nove de Julho. Será a estreia do programa de zeladoria urbana Cidade Linda. "Vamos ali dar uma demonstração de humildade, de igualdade e de capacidade de trabalho", afirmou.


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