Folha de S. Paulo


Fala de Doria sobre plano antipichação cria mal-entendido com artista em SP

Uma declaração do prefeito eleito João Doria (PSDB) sobre o novo plano para acabar com as pichações em São Paulo criou nesta quinta-feira (29) um mal-entendido com o muralista Eduardo Kobra.

O tucano anunciou o programa municipal Arte Urbana, de combate à pichação, e disse que Kobra seria o seu coordenador. "É um aviso claro aos pichadores. Ou mudem de profissão ou se tornem artistas. Venham participar do programa Arte Urbana, coordenado pelo Eduardo Kobra, que já foi pichador, se tornou grafiteiro e hoje é um dos maiores muralistas do mundo", afirmou Doria.

Logo após a declaração, porém, o artista negou à reportagem ter sido convidado para a função. "Não tenho nenhum cargo na prefeitura, não vou trabalhar na prefeitura, nada disso", afirmou o artista, autor de murais coloridos espalhados por São Paulo, como um retrato de Oscar Niemeyer na região da av. Paulista.

Segundo ele, há cerca de um mês houve um encontro com integrantes da futura gestão municipal, com a presença de Doria, para saber sua opinião sobre ações a favor da arte em São Paulo. "Foi uma reunião bem rápida. Não houve uma questão oficial, mesmo porque eu não trabalharia oficialmente porque meu trabalho é pintar." Além disso, o artista trabalhará em Nova York de março a novembro do ano que vem e portanto não poderia estar em São Paulo para desempenhar a função.

Mais tarde, diante da repercussão com a negativa do artista, Doria admitiu à Folha que o classificou inadequadamente como "coordenador" do programa, quando o correto seria uma espécie de "curador", com sugestões eventuais e até à distância sobre as ações.

O programa de combate à pichação integrará o projeto de zeladoria de Doria, batizado de Cidade Linda, cujas ações foram anunciadas nesta manhã.

A ideia, segundo o prefeito eleito, é transformar pichadores em artistas por meio de oficinas integrantes do programa. Doria também anunciou a instalação de câmeras onde há monumentos e vigilância da GCM (Guarda Civil Metropolitana) para coibir pichações.

Ainda sobre as declarações de Doria, Kobra disse agradecer os elogios –"estou há 28 anos pintando nas ruas e já fui detido algumas vezes, então um elogio vindo de uma autoridade para mim é algo inusitado sempre"–, mas diz que "jamais" iria contra suas "origens", a pichação.

"Comecei na pichação, minha origem é na periferia. Tenho vários amigos pichadores. Jamais vou me envolver com algo que seja contrário a qualquer manifestação de arte na rua. Não tenho nada a ver com isso, senão estaria indo completamente contra as minhas origens."

O artista também diz não acreditar "em evolução na arte de rua". "Um não é evolução do outro, cada um é cada um. Ninguém é melhor que ninguém nesse universo das ruas."

CIDADE LINDA

O plano anunciado por Doria também incluirá troca de lixeiras de plástico por modelos maiores de ferro e retirada de camelôs ilegais.

O projeto que será iniciado no dia 2 de janeiro consiste numa força-tarefa que inclui limpeza, poda de árvores, desobstrução de bocas de lobo e reparos de muros pichados. Trata-se de ação similar ao programa Belezura, implantado por Marta Suplicy (prefeitura entre 2001 e 2004 pelo PT).

No primeiro eixo, da avenida Nove de Julho, Doria anunciou que serão 1.291 pessoas trabalhando, 9.000 m² de pintura de sinalização horizontal, poda de cem árvores, entre outras ações. O programa incluirá a troca das lixeiras de plástico por modelos de ferro, maiores.

Desafios de Doria


Endereço da página:

Links no texto: