Folha de S. Paulo


Contra fuga de cruzeiros, cidades do litoral dão até incentivo a navios

Cidades do litoral paulista querem dar descontos nas tarifas para navios atracarem em seus portos na tentativa de atrair o movimento de cruzeiros, que teve queda significativa neste verão.

Em ascensão até 2014, as viagens que traziam turistas pelo mar para alguns destinos brasileiros caíram em alguns casos para menos da metade, como na cidade paulista de Ilhabela.

Em todo o país, a redução prevista é de no mínimo 30% em relação à temporada passada. Além do litoral paulista, sofreram o impacto destinos como Salvador e o Rio.

Por isso, cidades como Santos estão adotando incentivos financeiros para navios ancorarem por lá, como já ocorre em Ilhabela. Rio de Janeiro e Salvador também estudam medidas semelhantes.

QUEDA

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros, Marco Ferraz, o país recebeu 552 mil turistas nos navios de rotas nacionais entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016.

As vagas oferecidas de novembro de 2016 até abril de 2017 são 383 mil. E nem todas foram ainda preenchidas.

Os motivos são inúmeros, aponta Ferraz, entre eles os altos custos de atracação, embarque e combustível. A estrutura dos pontos de paradas também é inferior à disponível em outros países. Houve ainda a abertura de outros mercados como em Cuba e na China.

Além disso, alguns dos navios que deixaram de operar na costa brasileira migraram para a Ásia ou Oceania, onde custos operacionais são mais baixos. Foi o caso do grupo Royal Caribbean Cruises, que, após abril deste ano, reposicionou seus navios para essas regiões.

"A redução no Brasil vai na contramão da atividade, que tem crescido 4,5% no mundo. Mas o custo brasileiro é quatro vezes maior do que em outros países da Europa, por exemplo", diz.

No litoral norte paulista, Ilhabela e Ubatuba eram as únicas cidades que recebiam os navios desta categoria.

Ubatuba, que no ano passado foi ponto de parada para nove embarcações, neste ano não recebeu nenhum navio de cruzeiro. Em Ilhabela, 120 navios passaram na temporada de verão 2014/2015 (novembro a abril). Para essa temporada, apenas 39 embarcações confirmaram parada.

Em Santos, um acordo com o setor já resultou numa queda de até 26% nos valores cobrados pelas paradas. A cidade deve receber esse ano 14 embarcações durante o verão. No ano passado, foram 17.

Os navios que atracarem mais vezes no porto da cidade terão descontos ao pagarem pelas manobras de entrada e saída.

Ferraz, da associação de navios de cruzeiros, estima que somam R$ 30 milhões os gastos para atracar navios no porto. "Ter um desconto de 26% sobre esse valor dá uma boa diferença", afirma.

EFEITO NO COMÉRCIO

Para o presidente da ACEI (Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela), Wilson Alves dos Santos, a redução da parada de cruzeiros traz impactos ao comércio das cidades litorâneas.

Uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) faz uma estimativa do poder de consumo dos viajantes de navios. Segundo o estudo, cada passageiro gera, em média, R$ 466 em receitas de forma direta e indireta nas cidades que visitam. São turistas que gastam em passeios, na gastronomia local e compram lembranças e presentes.

Cerca de 80% dos passageiros dessas rotas são brasileiros. "Se cada navio têm em média 3.000 pessoas, Ilhabela estaria perdendo R$ 54 milhões em receita", diz Ferraz.


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