Folha de S. Paulo


Sem verba, luzes e enfeites, Natal 'some' das ruas de São Paulo

Bruno Poletti/Folhapress
Decoracao de Natal 2016, Sao Paulo tem pouca ilumincao de natal nas ruas em comparacao aos anos anteriores
Prédio da prefeitura em dezembro de 2014, com decoração de Natal, e em 2016
Avener Prado - 11.dez.2014/Folhapress
Prédio da prefeitura. Decoração de natal no viaduto do Chá, centro de São Paulo.
Prédio da prefeitura. Decoração de natal no viaduto do Chá, centro de São Paulo.

Cadê o Natal? Com poucas luzes, dinheiro ou clima para compras, a festa praticamente desapareceu das ruas de São Paulo. Tradicionalmente iluminadas nessa época do ano, regiões como as da Oscar Freire, nos Jardins (zona oeste), ou do Viaduto do Chá (centro), estão sem decoração natalina.

Após mais um ano de crise econômica, tanto a prefeitura como empresários decidiram cortar gastos com a data. Em 2016, o município não contratou iluminação de rua natalina, ao contrário do que costumava ocorrer. Em 2015, segundo anúncio feito pela gestão Fernando Haddad (PT), foram 600 mil lâmpadas em quase 2.000 árvores da cidade, além de outras ações em parceria com patrocinadores.

Dos atrativos do ano passado, porém, ficaram apenas a árvore diante do parque Ibirapuera e carretas de Natal, duas atrações patrocinadas pela Coca-Cola. Segundo a SPTuris, empresa municipal de turismo, a multinacional foi a única que respondeu ao chamamento público para a decoração de Natal deste ano.

Nem o prédio da prefeitura, no Viaduto do Chá, escapou do clima de fim de festa. Tradicionalmente enfeitado, neste ano não ganhou nenhuma decoração.

Diretor da empresa Tecnolamp, que costumava prestar serviços de iluminação natalina para a prefeitura, João Bico diz que 2016 é o primeiro ano sem a decoração de rua em São Paulo em mais de uma década. "A prefeitura acabou com o Natal", afirma.

Segundo ele, a decisão do município de não contratar as luzes provocou um efeito cascata. "Antes, assim que a iluminação das árvores de rua começava, chovia telefonema de condomínio e empresa." Este ano, diz, a demanda de prédios residenciais e de escritórios despencou.

Bruno Poletti/Folhapress
Decoracao de Natal 2016, Sao Paulo tem pouca ilumincao de natal nas ruas em comparacao aos anos anteriores. foto da rua Normandia, regiao da zona sul da capital
Iluminação de Natal na rua Normandia, em Moema, em dezembro de 2011 e em 2016
Lalo de Almeida - 1º.dez.2011/Folhapress
Decoração de Natal das lojas da rua Normandia em Moema, zona sul de São Paulo (SP)
Decoração de Natal das lojas da rua Normandia em Moema, zona sul de São Paulo (SP)

SEM CLIMA

O desânimo com o Natal é visível também na rua Oscar Freire, tradicional rua de compras dos Jardins. Antes com fios de luz ao longo de pelo menos 1 quilômetro, a via agora só tem decoração de Natal na fachada de algumas das lojas e, por iniciativa de estabelecimentos, em três árvores.

De acordo com a associação de lojistas, o "apagão" se deve à ausência da iluminação da prefeitura e de outros patrocinadores. "Nos últimos dois anos, a coisa já estava fraca, mas igual a este eu nunca vi. Está uma porcaria", reclama Juci de Castro, 68, que vive na região há mais de 40 anos.

Moradores da região da rua Normandia, em Moema (zona sul), também têm nostalgia do cenário natalino. "A rua virava um pedacinho da Europa em São Paulo", diz José Roosevelt Junior, 40, presidente da associação do bairro. "Grandes laços vermelhos, 'papais noéis', árvores com luzes e uma máquina de neve artificial faziam a alegria das crianças."

Nos últimos anos, o ímpeto dos comerciantes da rua Normandia minguou, e hoje só as fachadas das lojas estão enfeitadas –o que já é mais do que ocorre em outros corredores de compras.

Para Emilio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo, a decisão dos lojistas de deixar de lado os enfeites natalinos é pragmática. "Em anos bons, a decoração estimula o consumo. ajuda o comércio. Mas, neste, o consumidor só quer saber de desconto", diz. A entidade projetou uma queda de 6% nas vendas no Natal deste ano, em relação ao ano passado. Na primeira quinzena de dezembro, a redução foi de 7,2%.


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