Folha de S. Paulo


Pomposa, barca de açaí com até 16 ingredientes vira modinha na praia

É pura farofa na areia, e talvez só falte mesmo esse ingrediente na mais nova modalidade de açaí na praia, que vem numa gigantesca barca e tem de quase tudo.

"Quase tudo" são: duas bananas, um quarto de maçã, um quarto de manga, meio kiwi, oito uvas, quatro morangos, duas colheres de sopa de leite ninho, duas de granola, duas de flocos de milho, uma camada generosa de leite condensado, mel e uma paçoca.

Dependendo do vendedor, a iguaria pode ter também achocolatado, creme de avelã e calda de frutas vermelhas. E, claro, uma camada de açaí embaixo de tudo isso. Não cabe numa tigela. Mas, mesmo se coubesse, os vendedores não optariam por servi-lo assim, já que o grande marketing do negócio é a moda kitsch da vez: a barca. Coisa de rodízio japonês, foi importada agora pelas lanchonetes que servem açaí e carrinhos que vendem o creme na praia. Fica pomposo.

"O pessoal gosta de sair desfilando com a barca", diz Luciane Alves, 40, proprietária de um carrinho de açaí com o qual circula pelas praias da Riviera e de Juqueí, no litoral norte paulista, e em Guarujá, litoral sul.

É preciso cinco minutos para montar uma barca com todos esses ingredientes, e ela é metódica. As frutas e guloseimas são dispostas em fileiras. A paçoca vai por cima de duas colheradas de açaí na vertical, como a cereja de um "banana split".

Na Riviera, Luciane foi pioneira –serve essa opção há três meses– e fez outros vendedores correrem atrás da novidade. "A barca é tendência. A galera está pedindo. Depois do Natal, vamos começar a servir", diz Tilie Marauana, 26, dona do carrinho "Açaí Caiçara" que circula por ali.

Mas quem frequenta a Riviera é "um pessoal mais diferenciado", segundo Luciane, e essas pessoas são "light, pedem açaí sem leite condensado". O que faz mais sucesso é a diversidade das frutas. São duas opções de barca: grande (cerca de 40 cm, R$ 50) e média (30 cm, R$ 35).

SELFIE DE BARCA

"É algo simples, mas é novo, então todo mundo gosta. Às vezes pedem mais porque querem tirar foto, selfie, do que porque querem mesmo comer", avalia Giovanna Matsui, 30, dona de uma lanchonete a poucos metros da praia de Maresias que vende barcas por R$ 25,90 (pequena, 600 ml de açaí) e R$ 49,90 (grande, quase 1 litro de açaí). Pela quantidade de açaí, a tigela grande sai muito mais em conta: 750 ml por R$ 18.

Mas ninguém –ou quase ninguém– paga cinquentinha para comer esse rio de açaí sozinho. Giovanna diz já ter visto esse escândalo. Já Luciane fala que na Riviera os clientes costumam comer em grupo –e que isso faz parte da cultura do açaí na barca.

Em seis minutos, uma família de quatro pessoas devorou uma barca grande. Sandra dos Santos, 33, que trabalha com controle de qualidade ("olha como sou exigente") já havia experimentado o prato em São Caetano (Grande SP), onde vive, e comprou para compartilhar com a mãe, a irmã e a sobrinha. Para ela, faltou farinha láctea na combinação, que "podia ser ainda maior".

"O legal é que dá para pedir várias colheres e comer com os amigos", diz a estudante Melissa Bandeira, 16, que compartilhou uma barca grande com seis deles numa manhã. À tarde, quatro já estavam comendo mais açaí, desta vez em tigelas. É que, como definiu uma das amigas da turma, Marina Fraga, 16: "Açaí nunca é de mais".


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