Folha de S. Paulo


Perito sem qualificação fez laudo sobre acidente que matou filho de Alckmin

Reprodução/Facebook/geraldoalckmin
Geraldo AlckminThomaz, Sophia e Geraldo. Satisfação de pai é ver os filhos reunidos. http://instagram.com/p/YvvIhEmKvw/ ---- https://www.facebook.com/geraldoalckmin/photos/a.10150572162707837.479789.96033897836/10152435865497837/?type=1&theater
Thomaz Alckmin, filho do governador Geraldo Alckmin (PSDB), com os irmãos, Sophia e Geraldo

A Polícia Científica de São Paulo escalou um perito sem qualificação técnica sobre acidentes aéreos para apurar as causas da queda do helicóptero que matou o filho do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).

Foi nas conclusões do perito, o engenheiro Hélio Rodrigues Ramacciotti, que a Polícia Civil se baseou para indiciar três pessoas sob a suspeita de homicídio culposo (sem intenção de matar).

O Ministério Público Estadual, porém, que tem investigação própria (esta sim com especialistas em acidentes aéreos), refutou o laudo de Ramacciotti e decidiu não denunciar as pessoas acusadas pela polícia e prosseguir com sua apuração própria.

Um dos motivos sustentados pela Promotoria para refutar o laudo, segundo documento enviado à Justiça, foi justamente a "falta de qualificação formal em investigações de acidentes aéreos".

O perito Ramacciotti, segundo documento da Promotoria, tem formação de engenheiro eletricista e de segurança do trabalho, mas não sobre acidentes aéreos.

Segundo peritos do Instituto de Criminalística ouvidos pela Folha, ele necessitaria de um curso no Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) da Aeronáutica para fazer esse tipo de laudo.

A própria Polícia Científica tinha em seus quadros um profissional com esse curso, o perito Antônio de Carvalho Nogueira Neto –que participou das investigações do acidente da TAM em 2007–, mas ele não foi escalado pelo instituto para essa tarefa.

Agora, ele ajuda os técnicos no Ministério Público Estadual a explicar o acidente.

CONCLUSÕES

Além de Thomaz Alckmin, 31, filho do atual governador de São Paulo, estavam no acidente outras quatro pessoas -entre elas funcionárias da empresa de manutenção.

Ramacciotti apontou em suas conclusões que a queda do helicóptero, em 2 abril de 2015 em Carapicuíba, na Grande SP, foi provocada pela desconexão de peças da aeronave (alavanca e flexível).

Assim, a falha seria da equipe de manutenção.

O perito chegou a fazer testes em um helicóptero para demonstrar sua tese.

De acordo com o Ministério Público, porém, o modelo utilizado pela perícia de São Paulo era muito diferente daquele que caiu. Foi utilizado um Pantera K2, enquanto o certo seria um 155 B1 –maior e mais moderno.

Já os testes da Promotoria foram feitos com modelo igual ao acidentado. O resultados foram muitos diferentes –o helicóptero nem sequer levantaria voo se tivesse o problema apontado pelo perito do Instituto de Criminalística.

Chello Fotógrafo/Futura Press/Folhapress
Operários removem destroços do helicóptero que caiu em abril de 2015, matando cinco pessoas
Operários removem destroços do helicóptero que caiu em abril de 2015, matando cinco pessoas

Até um vídeo da própria Airbus foi utilizado na apuração para mostrar que o helicóptero não levantaria voo.

"Não há estudo técnico que aponte ser possível que a aeronave, com aqueles elementos desconectados, pudesse alçar voo como fez", diz a promotora Sandra Reimberg.

Para o Ministério Público, a principal hipótese para o acidente é a quebra das pás de hélice –que tinham sido instaladas horas antes do acidente, depois de reforma do fabricante em Minas Gerais.

Ainda segundo a Promotoria, a única análise feita pela perícia de São Paulo nas "pás do rotor principal, concluiu por exames visuais que os danos foram em consequência da queda e não causas".

OUTRO LADO

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública disse que "o perito oficial tem capacitação científica e qualificação para realização das perícias e trabalhou com informações complementares recebidas do Cenipa, que é o órgão especializado no assunto".

As investigações do Cenipa não estão, porém, concluídas. Segundo a Promotoria, mesmo se estivessem, elas não podem ser utilizadas para instrução de inquéritos até por força de lei (12.970/14), por ter outros propósitos –evitar novos acidentes.

Em nota, a Helipark, empresa responsável pela manutenção da aeronave, afirma que a manifestação do Ministério Público sobre o caso traz maior precisão e imparcialidade para a investigação.

"Interpretações precipitadas trazidas a público por autoridades, poucas semanas após o acidente, apontaram para uma hipotética falha de manutenção (a 'desconexão' de importante haste de comando), revelando uma tentativa de atender outros interesses, diferentes da descoberta da verdade e da preservação da segurança de voo, que deve ser o objetivo primordial de uma investigação aeronáutica", diz a nota.

O documento diz ainda que uma decolagem com as hastes desconectadas seria "um absurdo do ponto de vista técnico" e que é necessário realizar uma análise mais profunda dos destroços. A empresa afirma que seguirá colaborando com as autoridades.


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