Folha de S. Paulo


Esteticista do Rio 'torra' clientes na laje e fatura com marquinha de biquíni

Numa manhã de terça-feira, Rose Oliveira, 40, saiu de casa para se bronzear. Passou reto pelas praias de Niterói, onde mora, e foi direto a Realengo, no subúrbio do Rio, a 50 quilômetros de sua casa e a mais de 20 de qualquer sinal de mar.

O objetivo era chegar a uma laje de 40 m² de onde todos saem com a "marquinha perfeita", podendo "lacrar neste verão". A dona do espaço é Erika Martins, 34, ou Erika Bronze, a esteticista que aplica nas clientes técnica que aprendeu "torrando" em lajes da favela onde cresceu.

"Parece que tá tudo de biquíni preto, né?", diz Erika, contemplando os corpos brilhosos que tostam nas espreguiçadeiras alinhadas da laje às 10h da manhã.

Na verdade, as clientes "vestem" fitas pretas isolantes que formam o desenho de um biquíni. É esse o segredo do bronzeado perfeito que Erika promete. Isso e a mistura de cacau com urucum com que ela lambuza as mulheres, e que ela chama de "acelerador" de bronzeado.

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"Erika, essa aqui não tá aguentando, pode virar?", pergunta Bibi, "a gerente do bronze", sua assistente, que controla o tempo que cada uma passa sob o sol. Além dela, Erika tem duas outras ajudantes, que ela chama de "minhas bombeiras" porque, a cada dez minutos, refrescam os corpos com um regador. As clientes, Erika chama de "minhas flores".

"Já está com o bumbum montado? Então pode", diz Erika. "Montado" quer dizer com a fita no formato que a cliente escolher (asa-delta, fio-dental, entre outros).

A linha de montagem funciona assim: a cliente chega e se despe atrás de um biombo de plástico. Erika cola a fita isolante na forma escolhida, uma "bombeira" passa o filtro solar fator 30 e a freguesa segue para a "grelha".

Paga-se R$ 70 por três sessões iniciais –para fixação da marca– e R$ 50 "para manutenção" dali em diante.

"Se a pessoa for bem morena, a gente deixa abusar mais, fica uma hora e meia de cada lado. Se é branquinha, aí deixa só 40 minutos, senão fica vermelha logo", diz Bibi.

Seja sábado ou segunda, se há sol, cerca de 20 a 30 corpos chegam lá branquelos ou com marquinhas desbotadas e saem com um desenho de biquíni na pele que parece pintado à mão. "A Mulher Melancia é minha cliente, a Tati Quebra Barraco, tem gente de todo lugar", diz Erika.

A fisioterapeuta Poliana Silva, 28, frequenta a laje desde que o negócio começou, há três anos. "Fico linda, vale o investimento", conta. A clientela cresceu desde que Erika foi notícia no programa da Xuxa e na revista Piauí.

A ideia virou letra de funk da MC Barbie, uma de suas funcionárias. "Ai droga, desculpa aí se minha marquinha te incomoda". Erika só permite a entrada de homens se forem "gays, trans, etc". Ela também oferece o serviço com desenhos de sungas.

A técnica surgiu na adolescência, quando ela pegava sol com amigas na laje de casa, na favela Vila Aliança, a dez quilômetros do novo ponto.

"Como eu não tinha dinheiro pra comprar biquíni nem ir à praia, ficava na laje. Pessoal de comunidade gosta muito de uma laje." Erika não se diz criadora da técnica. "Toda menina de comunidade sabe fazer, a diferença é o meu desenho perfeito."

Hoje ela emprega seis pessoas, entre elas, o marido. Neste verão, deve começar a vender seu "acelerador", que, segundo ela, recebeu aval da Anvisa. No futuro quer ter um spa voltado ao bronze perfeito. Faturou R$ 80 mil no último verão. "A crise não chega no bronze", resume.


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