Folha de S. Paulo


Ninguém pensou que era ela, diz prima de noiva morta em acidente aéreo

Leandro Machado/ Folhapress
Parentes e amigos caminham por cemitério antes do enterro de noiva morta na queda de um helicóptero
Parentes e amigos caminham por cemitério antes do enterro de noiva morta na queda de um helicóptero

Dois helicópteros de canais de TV sobrevoavam o cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes (Grande São Paulo), às 17h desta segunda (5), quando os corpos da auxiliar de enfermagem Rosemere do Nascimento, 32, e de seu irmão Silvano Nascimento, 40, eram enterrados.

As pessoas olhavam para cima e ouviam o barulho tentando entender. Mas entender era o mais difícil: os dois morreram justamente em um acidente de helicóptero na tarde deste domingo (4), junto com o piloto e uma fotógrafa, que estava grávida de seis meses.

Rosemere, vestida de noiva, entrou no helicóptero no domingo para chegar ao seu casamento com o chaveiro Udirley Marques Damasceno. "Parecia um filme de terror", lembra o zelador Damião Marques, 43, irmão do noivo.

No momento da queda, todos os convidados esperavam a chegada de Rose, que queria surpreender o noivo, ao descer de helicóptero.

"Estava tudo pronto, era só subir ao altar. Udirley já tinha entrado, a dama de honra também", afirma Damião.

Leandro Machado/ Folhapress
Noiva e irmãos mortos em queda de helicóptero são enterrados na região metropolitana de São Paulo
Noiva e irmãos mortos em queda de helicóptero são enterrados na região metropolitana de São Paulo

Mas Rosemere não chegava. As noivas atrasam, normal. "Então alguém disse que teve um acidente perto. Ninguém pensou que fosse ela", diz a professora Léia de Almeida, 37, prima de Rose.

Depois, veio a notícia de que era um helicóptero, mas nada grave. Até então ninguém sabia que Rosemere chegaria de helicóptero. Ela só contou para a mãe, com medo do noivo descobrir.

Outro que sabia era o dono do sítio, Recanto Beija-Flor, em São Lourenço da Serra (Grande SP). A demora aumentou, e ele avisou da tragédia. "Mas ele disse que só tinha uma vítima", conta Léia.

Editoria de Arte/Folhapress

Minutos depois, a notícia: Rose estava morta. "Foi inacreditável, todo mundo ficou em choque", afirma Marli Araújo, 37, prima de Rose.

O casal era evangélico e se conheceu na igreja Congregação Cristã, em Taboão da Serra (Grande SP), há pouco mais de um ano. Rose era mineira da cidade de Cruz dos Araujos. Udirley é baiano.

Apaixonados, logo resolveram se casar. "Ela estava a pessoa mais feliz do mundo, arrumou todos os detalhes do casamento", diz a prima Léia.

Gastaram na festa em torno de R$ 40 mil. A chegada de helicóptero estava incluído em um pacote especial.

Como eram evangélicos, um pastor celebraria a cerimônia, que seria validada também por um juiz. Em seguida, haveria um jantar para os convidados, sem distribuição de bebidas alcoólicas.

Durante o velório, amigos -a maioria da igreja- oravam emocionados. Alguns chegaram a se ajoelhar. As mulheres usaram véus brancos, uma tradição da igreja.

Udirley não quis falar com a imprensa. Ficou ao lado do caixão, chorando. "Ele está arrasado", diz o irmão, Damião.

Os fiéis tentavam se consolar na religião. "É muito triste, nunca vamos esquecer esse funeral. Essa tragédia surpreendeu a todos, mas Deus já sabia. Nós temos que tentar entender os desígnios de Deus", disse um pastor no velório. "Agora, é recolher os casos. Temos que seguir a vida", afirmou Damião.

O ACIDENTE

O helicóptero caiu sobre uma área de chácaras, no bairro Barrinha. O vigilante Rubens Pires, 36, diz que ele dava voltas, como se procurasse um local para pousar.

"Ele foi e voltou duas vezes. A hélice parece que se desfez e depois ouvimos um barulho do helicóptero caindo no meio das árvores."

A cuidadora Cíntia Camargo Pires, 35, disse que viu a aeronave girando antes de cair. "Estava saindo fumaça. A hélice estava parada, e o helicóptero é que girava."

No horário da queda, a região tinha tempo encoberto, com neblina e chuva fraca.

A aeronave modelo Robinson 44 havia sido comprada recentemente, de acordo com informações da Anac (agência de aviação civil). A situação dela era regular.

Jorge Araújo/Folhapress
Local do acidente, em São Lourenço da Serra, na Grande SP
Local do acidente, em São Lourenço da Serra, na Grande São Paulo

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