Folha de S. Paulo


Laranja e abacaxi são os alimentos de maior risco por agrotóxico, diz Anvisa

Apu Gomes/Folhapress
Trabalhador que deixou de receber o Bolsa Família, em colheita de abacaxi, em fazenda particular ao lado do assentamento Ramada I, em Ielmo Mariano, no Rio Grande do Norte
Trabalhador em colheita de abacaxi no Rio Grande do Norte; alimento tem alto teor de agrotóxicos

Uma análise feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 25 categorias de alimentos apontou a laranja e o abacaxi como aqueles que tiveram maior número de amostras com resíduos de agrotóxicos que representam riscos agudos à saúde, como intoxicações.

De 744 amostras de laranja analisadas, 90 apresentaram resíduos de agrotóxicos em nível que indica potencial risco agudo à saúde –o equivalente a 12% do total. No caso do abacaxi, foram analisadas 240 amostras. Doze delas entraram nessa categoria de risco, ou 5%.

Já somados todos os tipos de alimentos analisados, e que incluem cereais, frutas e hortaliças, a notícia é positiva: do total de 12.051 amostras coletadas nos supermercados, apenas 134 apresentaram resíduos com potencial risco à saúde, o equivalente a 1%. Ou seja, 99% seriam considerados livres de resíduos de agrotóxicos que representam risco.

É a primeira vez que a Anvisa analisa o potencial de risco imediato à saúde pela presença desses resíduos. Segundo a agência, esse risco está relacionado às intoxicações que podem ocorrer em até 24 horas após o consumo.

Entre os alimentos que apresentaram parte das amostras com potencial risco, laranja e abacaxi responderam pela maioria dos casos, somadas a uma menor quantidade de unidades de outros produtos, como couve e uva. Para estes, no entanto, os percentuais com potencial risco são ainda menores –enquanto laranja e abacaxi tinham 12% e 5%, esses tiveram 2,6% e 2,2%.

A maioria das situações de risco para a laranja está relacionada ao agrotóxico carbofurano, hoje em processo de reavaliação pela agência. Na análise do abacaxi, a maior parte dos resíduos encontrados eram do agrotóxico carbendazim.

A Anvisa, no entanto, faz ressalvas em relação aos resultados. Segundo a agência, alguns estudos trazem indícios de que as cascas da laranja e o do abacaxi têm baixa permeabilidade aos principais agrotóxicos, o que reduz a concentração de resíduos na polpa.

A análise da agência, no entanto, foi feita considerando os alimentos inteiros e, em seguida, triturados.

"Como a maior parte dos resíduos fica concentrada na casca, a retirada da casca neste caso ajudaria a reduzir [os riscos]", afirma o diretor-presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa.

"É importante que o consumidor também lave bem os produtos para reduzir os resíduos, que consuma produtos da época e que haja por parte das cadeias de supermercado maior controle para que não adquiram de produtores que utilizam agrotóxicos de forma inadequada, deixando excessos nos produtos", recomenda.

IRREGULARIDADES

A coleta e o estudo foram feitos entre 2013 a 2015 em todos os Estados. O monitoramento, no entanto, ocorre desde 2001. Para esta edição do estudo, a agência adotou uma nova metodologia e passou a incluir a avaliação de risco à saúde. Antes, eram observados apenas se os produtos tinham irregularidades como uso de agrotóxicos não autorizados para a cultura ou resíduos acima do limite máximo permitido.

A mudança ocorre diante do temor de que os resultados do modelo anterior, sozinhos, desestimulassem o consumo de frutas e hortaliças.

Por este novo modelo, além dos dados sobre risco, 80% das amostras foram consideradas satisfatórias por não terem resíduos detectados ou terem resíduos dentro do limite autorizado.

Já 19,7% do total de amostras foi considerada insatisfatória: caso daquelas cujo agrotóxico identificado não é autorizado para cultura ou cujos resíduos estavam acima do limite, situação que pode representar perigo principalmente para o agricultor. Entre estes, a maioria são alimentos de pequenas culturas, como pimentão e abobrinha.


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