Folha de S. Paulo


Doria negocia acordo com a Santa Casa em promessa do 'corujão da saúde'

Em meio a uma grave crise financeira, mas com capacidade ociosa de atendimento estimada em cerca de 2.000 pessoas ao dia, a Santa Casa de São Paulo deverá ocupar papel central no programa "Corujão da Saúde" na futura gestão João Doria (PSDB).

Principal bandeira de campanha tucana na área da saúde, o programa prevê o uso de instalações da rede hospitalar privada das 20h às 8h para zerar, no prazo máximo de um ano, uma fila estimada em 417 mil exames.

O objetivo do prefeito eleito é ter uma rede de 50 hospitais privados no programa.

Até a última quinta (23), 41 instituições já estavam apalavradas com a equipe de transição para firmar convênios com o município a partir de janeiro –a prefeitura repassa recursos, e a instituição coloca funcionários e equipamentos à disposição para exames.

A possibilidade de utilização da Santa Casa no programa surgiu em conversas nos últimos dias entre o futuro secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara, e integrantes da cúpula do hospital.

Esse acordo será conveniente para ambos os lados.

Primeiro, para a própria gestão Doria, porque conseguiria reduzir uma das principais críticas ao "corujão": o horário de atendimento.

Isso porque a Santa Casa tem capacidade para agendar atendimentos a partir das 14h, já que seus 1.300 procedimentos diários estão concentrados entre 7h e 14h –durante a campanha, Doria disse que os exames poderiam ser feitos de madrugada.

No caso da Santa Casa, outro atrativo é a localização. O hospital fica na região central, próximo a terminais de ônibus e estação de metrô.

Além disso, o convênio será uma forma de o município ajudar financeiramente o hospital, que luta para manter as portas abertas e tem dívida estimada em R$ 800 milhões.

Uma ideia do risco que isso representa ocorreu em julho de 2014, quando os ex-administradores do hospital fecharam o pronto-socorro por um período de cerca de 30 horas.

O valor do convênio, se confirmado, dependerá da quantidade e tipo de serviços contratados -a Santa Casa tem um leque superior a 35 tipos de exames e especialidades (de pediatria a geriatria).

SOCIAL

A ideia de parceira com a Prefeitura de São Paulo também tem simpatia das entidades privadas de saúde, que já marcaram agendas de trabalho para o início de dezembro.

Nesses encontros, deverão ser definidos a capacidade de atendimento e os valores dos serviços prestados. Em geral, as negociações em torno do "corujão" têm ocorrido entre a equipe de transição e as associações médicas, não diretamente com os hospitais.

"Para os nossos hospitais, eu diria que é menos uma questão de negócio e mais uma contribuição social com aquilo que a gente acha que a cidade merece", disse Francisco Balestrin, presidente da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados).

"Nós vamos participar, sim, mas movidos por esse princípio. Princípio de colaboração cidadã", completou.

Fila na saúde

Balestrin disse que a rede privada já faz exames e atendimentos na madrugada e fins de semana e, por isso, não vê motivos para críticas com relação aos horários. Essa seria uma experiência que o serviço público pode absolver.

"A demanda de saúde continua de noite e no final de semana, nos feriados, inclusive. A doença não sabe que ela tem que acontecer de segunda a sexta, das 8h às 17h."

O presidente do Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo), Yussif Ali Mere, disse considerar essa parceira benéfica a todos, incluindo ao próprio setor.

"Acho uma ideia muito boa porque otimiza recursos. Nós imaginamos que seja bom para o serviço e, principalmente, porque vai desafogar esse gargalo na saúde que existe há anos", disse ele.

"Estamos levantando o que as clínicas podem oferecer para a prefeitura no espaço ocioso que elas possuem."

Desafios de Doria


Endereço da página:

Links no texto: