Folha de S. Paulo


Peões brasileiros acumulam títulos e prêmios milionários no exterior

Pierre Duarte/Folhapress
BARRETOS, SP, 18.08.2016 - FESTA DO PEAO DE BARRETOS - Peao participa de montaria em touro durante a festa de peão de Barretos. Foto: Pierre Duarte/Folhapress
Peão participa de montaria em touro durante a festa de Barretos

Despontaram logo cedo em sua atividade no cenário nacional, conquistando títulos importantes. Viajaram para o exterior, fazendo fama e ganhando milhões de dólares. Têm até fã-clubes, e alguns já foram os melhores do mundo na temporada. Arenas lotavam para vê-los.

A descrição lembra a história de vida de famosos jogadores de futebol, mas as semelhanças terminam por aí.

São peões de rodeio, profissão que abraçaram na juventude e que os fizeram deixar pequenas cidades no interior do país para se aventurarem em Nashville, Sacramento, Oklahoma City e Las Vegas, todas nos EUA.

É o caso de Kaique Pacheco, 22, que já amealhou cerca de R$ 3 milhões em prêmios. Parte do montante, R$ 325 mil, há duas semanas, quando terminou o circuito como vice-campeão mundial.

Além dele, outros três brasileiros ficaram entre os sete mais bem ranqueados na 23ª disputa da PBR (Professional Bull Riders), principal circuito do gênero no mundo. Peões do Brasil têm nove títulos, como o dos tricampeões Adriano Moraes e Silvano Alves, ante 13 de peões dos EUA.

"Rodeio é minha vida, desde criança fui criado no meio de animais", diz Pacheco, cuja principal conquista brasileira foi a Festa do Peão de Barretos, em 2014, que lhe rendeu um prêmio de R$ 75 mil.

Natural de Itatiba (SP), estreou nos EUA em 2013 e ganhou R$ 106 mil, valor repetido no ano seguinte. Em 2015, alcançou R$ 1,17 milhão. Neste ano, somou R$ 1,4 milhão.

O circuito é milionário. O prêmio da etapa final, em Las Vegas, passou de R$ 810 mil, enquanto o campeão da temporada, o norte-americano Cooper Davis, 22, colocou R$ 3,2 milhões no bolso.

"É uma boa grana. Pretendo ficar aqui muito tempo. Invisto no Brasil. Compro bois, é do que entendo", diz Kaique.

O zootecnista João Ricardo Vieira, 32, ficou em quinto no ranking e ganhou R$ 5 milhões nos últimos quatro anos no exterior. Já conquistou 63 rodeios, que lhe renderam sete carros e 20 motos, fora prêmios em dinheiro.

Descoberto no extinto Rodeio Universitário, ele monta há 12 anos e pretende usar o dinheiro para investir em terras, "o sonho de todo homem". "Já dá para sobreviver com o que fiz no rodeio", diz ele, que investiu parte dos prêmios em construção civil no interior paulista.

Além dos quatro entre os líderes do ranking, outros 11 brasileiros ficaram entre os 50 mais bem colocados, em meio a competidores dos EUA, do Canadá, da Austrália, do México e da Nova Zelândia.

Presidente do braço brasileiro da PBR, Martha Cajado diz que os peões são acompanhados desde as disputas no Brasil até a ida aos EUA. Eles se notabilizam, afirma, pela disciplina e ambição.

Segundo ela, a PBR tem planos de expansão para países da Ásia e Europa e, nos EUA, o total de brasileiros pode crescer nos próximos anos.

Assim como no futebol, de acordo com a dirigente, é difícil segurar os principais peões no país devido aos prêmios oferecidos no exterior. "Quando percebem que seu nível técnico é compatível com o dos bons competidores nos EUA, vão embora. Isso faz parte da dinâmica."

NA ARENA

Para os brasileiros, a principal diferença no circuito norte-americano em relação às provas daqui é a genética dos animais.

"Os touros são muito difíceis, 99% deles são fruto de melhoramento genético, para que pulem mais. Não é como no Brasil, onde os animais têm genética para carne, não para rodeio", diz Vieira.


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