Folha de S. Paulo


Por promessa, Doria avalia até limite diferente em cada faixa da marginal

Danilo Verpa/Folhapress
SAO PAULO - SP - 11.03.2016 - Transito parado na Marginal Tiete, proximo a ponte Atilio Fontana. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO) ORG XMIT: CHUVA EM SP
Congestionamento em abril na marginal Tietê, próximo à ponte Atílio Fontana

Após a decisão de manter em 50 km/h o limite de velocidade padrão nas pistas locais das marginais Tietê e Pinheiros, em uma guinada no discurso de campanha, o prefeito eleito João Doria (PSDB) agora estuda formas de preservar ao menos parte de sua promessa eleitoral inicial.

A alteração nos planos do tucano foi revelada pela Folha nesta sexta (18). Doria prometia aumentar as velocidades máximas para 60 km/h nas pistas locais assim que assumisse o cargo, mas sofreu pressão de diversos setores para abrir mão da ideia.

Estudos da equipe de transição indicaram não ser viável adotar um limite padrão de 60 km/h especialmente na marginal Pinheiros, por causa do intenso entra e sai de carros e pedestres de shoppings e centros empresariais.

Agora, em uma tentativa de conciliar a segurança no trânsito com uma de suas principais promessas, integrantes do núcleo tucano consideram manter o limite de velocidade de 50 km/h apenas na faixa mais à direita das pistas locais. As outras faixas ficariam com máximas maiores, de 60 km/h.

A proposta, porém, encontra resistência dentro da própria equipe de transição e é criticada por especialistas em engenharia de transportes.

Para Horácio Figueira, mestre pela USP, isso criaria dificuldades práticas para a fiscalização por radares.

"Um motorista está na faixa central e, por alguma razão, precisa mudar de faixa e vai para a da direita, mas faz isso bem no ponto em que há um radar. Como fica? A proposta é de difícil monitoramento", avalia Figueira, que é defensor da manutenção dos limites atuais.

Luiz Célio Bottura, consultor em engenharia de transportes e ex-ombudsman da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), é mais enfático. "Não tem técnico que encabece essa ideia. Isso só deixaria os motoristas mais confusos ainda", afirma.

Bottura explica que a medida já foi adotada no passado em algumas estradas, que têm faixas mais largas que vias urbanas, mas que hoje não é mais implementada.

No Código de Trânsito Brasileiro, não há disciplina sobre faixas com diferentes velocidades em uma só via.

A lei estabelece apenas que quando uma pista comportar várias faixas no mesmo sentido, as da direita são destinadas ao deslocamento dos veículos mais lentos e de maior porte, e as da esquerda servem à ultrapassagem e ao deslocamento de veículos de maior velocidade.

Enquanto o modelo exato que será adotado para as pistas locais segue em análise, a equipe de Doria já se definiu sobre o aumento de velocidade nas vias expressas das marginais, que subirão dos atuais 70 km/h para 90 km/h.

Nas pistas centrais, a ideia é aumentar dos atuais 60 km/h para 70 km/h, mas com pontos de redução dessa velocidade máxima, como nos acessos às vias locais.

MORTES EM QUEDA

Engenheiros, cicloativistas e associações em defesa de pedestres têm criticado Doria desde a campanha para rever a promessa de aumentar a velocidade nas marginais.

A pressão sobre o tucano vinha inclusive de entidades que trabalham com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) –principal cabo eleitoral de Doria– em programas de melhoria da segurança do trânsito, como o Cedatt (Conselho Estadual para Diminuição dos Acidentes de Trânsito e Transporte).

Desde que a gestão de Fernando Haddad (PT) implementou o programa de redução de velocidade nas marginais, o número de mortes nessas vias caiu pela metade.

De julho de 2014 a junho de 2015, foram 64 acidentes com mortes, contra 31 ocorrências do tipo nos 12 meses seguintes, até junho de 2016.


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