Folha de S. Paulo


PM de SP 'oficializa' hobby da escultura e conquista magistrados

Adriano Vizoni/Folhapress
O soldado da PM Joaquim Lima Sales produz escultura no fundo de sua casa no litoral paulista
O soldado da PM Joaquim Lima Sales, que produz esculturas no fundo de sua casa no litoral paulista

Parece muito, mas Joaquim Lima Sales, 44, jura que nem vê passar as cinco horas que fica quase todos os dias esculpindo no ateliê dos fundos da sua casa, em Mongaguá, litoral paulista, onde é conhecido como "Kinkas".

Enquanto não está fazendo sua arte, trabalha como soldado da Polícia Militar no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista. Lá, é mais conhecido como soldado Sales.

Apesar de inusitada, ele diz que é perfeitamente compatível a combinação entre o soldado Sales e o "Kinkas": "Aqui na nossa corporação muitos policiais têm outras habilidades. Tem policial ator, poeta", argumenta. E essa veia artística em agentes de segurança pode tornar a PM mais próxima do povo, diz ele. "Temos que expor mais esse tipo de coisa."

Nunca fez curso para aperfeiçoar sua técnica, mas traz a prática desde a infância, época em que fabricava os próprios brinquedos. Para o desespero da mãe, serrava os talheres de casa e criava ferramentas como formão e goiva. Com elas, esculpia em madeira, isopor e o que mais estivesse à frente.

Hoje, trabalha com concreto celular, material usado na construção civil. Demora entre um e dois meses para terminar uma peça –calcula já ter feito entre 40 e 50 delas. As horas que passa trabalhando em uma peça o colocam em um estado quase meditativo, diz ele. "É um tempo que você fica ali sozinho, pensando. Melhor que um spa", define.

Sales diz que mulher é sua maior crítica e não tem medo de dizer quando suas peças ainda podem melhorar. "Ela tem um olho clínico que impressiona", afirma.

Começou a misturar o hobby e a atividade como policial quando trabalhava no fórum de Taboão da Serra, em 2012. A juíza diretora lhe encomendou uma escultura e seu trabalho acabou caindo no gosto dos colegas.

A fama lhe precedeu quando foi para o fórum da Barra Funda, no ano passado. "Como alguns magistrados trabalhavam lá e também vieram para cá, comentavam e acabaram me conhecendo aqui também", diz Sales.

Foi convidado para expor no saguão do fórum, até a última semana, 11 peças com símbolos relacionados à Justiça, como a balança e a divindade da mitologia grega Têmis, mulher com os olhos vendados e espada nas mãos.

Hoje, seus trabalhos estão à mostra no shopping Continental, em Osasco, ao lado de outros 30 artistas brasileiros e estrangeiros, até 27 de novembro.


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