Folha de S. Paulo


Dom Redovino Rizzardo (1939-2016)

Mortes: O bispo sem tabu e a perfeição das palavras

Arquivo Pessoal
Apaixonado pela escrita, Dom Redovino Rizzardo não publicava seus artigos sem cinco revisões diferentes
Apaixonado pela escrita, Dom Redovino não publicava seus artigos sem cinco revisões diferentes

Tal qual Agostinho, que se aferrou à escrita para confessar-se a Deus e pregar aos homens a imutabilidade do verbo divino, Dom Redovino escrevia com a alma. Sobretudo às quintas, quando iniciava a lida antes de o galo cantar, na diocese de Dourados (MS). Como não publicava nada sem cinco correções, até enviar o santo artigo para o jornal de sexta batia as nove horas. Só então regozijava. E rezava por um mundo de paz.

Sensível à beleza do verbo, nasceu entre analfabetos, num vilarejo perdido entre as serras de Bento Gonçalves (RS). "Desde os nove sonhava com a batina", diz o diácono Nilson Domingos. Filho de agricultores, queria algo além. Quando a tia se enclausurou com as carmelitas, seguiu o exemplo. Aos 11 entrou para o seminário. Aos 28, foi ordenado. E logo estava em Roma, estudando biblioteconomia.

Foi formador, vigário e assessor da CNBB, além de diretor do centro de espiritualidade de Guaporé (RS) –ali recebeu, em 2000, a notícia: seria bispo. Mas seu maior orgulho era a revista Elo, com coluna fixa para suas ideias. Vivia a ler, de filósofos alemães à vida dos santos (Agostinho entre eles) e a escrever, de artigos contra a teologia da libertação aos que pediam paz no campo. Não raro era criticado por ficar "em cima do muro".

Queria uma igreja aberta, sem tabu. Chegou a falar de pedofilia aos ordenados. Até suspendeu um deles. Mas se a pena era ferina e o juízo, severo, a voz era suave e o humor, largo. Certa vez confessou, rindo: amara uma moça, mas Cristo venceu. Morreu dia 6, de câncer, aos 77. Deixou oito livros com artigos seus –seus únicos pertencentes.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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