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Doria assumirá prefeitura no auge das chuvas e seguirá cartilha de Haddad

Nelson Antoine/FramePhoto/Folhapress
Ponto de alagamento na av. Nove de Julho, proximo ao terminal bandeira, centro da capital paulista, durante chuva na manha desta quinta feira. Foto: Nelson Antoine/FramePhoto *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Ponto de alagamento na av. Nove de Julho, próximo ao terminal Bbandeira, na região central de SP

Em janeiro, quando sentar na cadeira de prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) assumirá o controle da cidade no auge da temporada de chuvas. Minimizar alagamentos, queda de árvores e quebra de semáforos será o primeiro teste de fogo da futura gestão.

Contudo, no meio de todo esse aguaceiro, os paulistanos não sentirão mudanças bruscas no método de prevenção e nas respostas da prefeitura a esses potenciais danos.

Isso porque, ao menos em 2017, Doria atuará de acordo com cartilha já desenhada pela atual gestão de Fernando Haddad (PT). As medidas de combate à chuva deste verão contemplam ações de 14 de novembro a 15 de abril.

Cidade dos alagamentos

Um dos principais dramas e que tende a não ter nenhuma mudança a curto e médio prazos é a prolongada falta de luz após as tempestades.

Sobre isso, Doria promete "fazer cumprir a lei" que manda a concessionária Eletropaulo enterrar a fiação elétrica, hoje exposta a interferências, como queda de árvores.

Diferentes gestões já tentaram: uma lei municipal de 2005, da gestão José Serra (PSDB), regulamentada em 2006 por decreto da gestão Gilberto Kassab (PSD) e que começou a ser tirada do papel em fevereiro por Haddad, manda a concessionária enterrar 250 km de fios por ano.

Se todos os 24,6 mil km da rede elétrica da cidade fossem enterrados, essa operação duraria 98,7 anos -isso no ritmo que manda essa lei.

A obrigação, contudo, foi barrada pela Justiça Federal. Essa entendeu que, como a Eletropaulo é uma concessão federal, essas questões fogem da gestão da prefeitura.

A empresa estima ainda custos de R$ 100 bilhões com as obras de enterramento, valor que seria repassado de forma progressiva aos usuários.

Ainda assim, segundo o professor Nelson Kagan, da Escola Politécnica da USP, enterrar fios não resolveria totalmente os cortes de energia. A rede enterrada ainda poderia apresentar problemas, como alagamentos das caixas subterrâneas de energia, mais difíceis de serem identificados.

SEM SOLUÇÃO

Quedas de luz levam a um outro problema em dias de chuva: semáforos apagados.

A gestão Haddad diz que as falhas ficam dentro do padrão de até 1% de equipamentos falhos em dias normais e até 2% em dias de chuva.

O problema é que a cidade de SP tem 6.335 semáforos. E 2% deles fora de uso em dias de chuva representam um total de 127 equipamentos apagados e contribuindo para complicar o trânsito.

Cerca de 1.400 semáforos possuem nobreaks que permitem funcionamento por até duas horas mesmo sem luz, diz a prefeitura. Outros 1.800 têm dispositivos que avisam as falhas à CET e permitem o conserto remoto, a não ser que haja avarias ou furto de cabos.

Outro ponto sensível é a queda de árvores, que, além de provocar mortes, costumam deixar regiões inteiras sem luz. O pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) Sergio Brazolin, especialista em árvores urbanas, levanta dois principais motivos para a queda: falta de planejamento no plantio e problemas no manejo.

Brazolin ressalta ainda a dificuldade de técnicos da prefeitura diante da falta de equipamentos de monitoramento capazes de medir a resistência da madeira de árvores.

A gestão Haddad diz que o manejo de árvores tem sido intensificado e que, em média, 300 árvores são podadas ao dia. De janeiro a outubro, caíram cerca de 2.500 delas, ante 3.234 no ano passado.

PRIORIDADE

Em 2017, à frente da Defesa Civil municipal e das operações de chuva da prefeitura estará o coronel Marco Aurélio Alves Pinto, ex-comandante do Corpo de Bombeiros e ex-chefe da Casa Militar do governo do Estado.

O comandante já trabalha no gabinete da Defesa Civil junto do atual coordenador geral da área, Milton Roberto Persoli, e chegou com um discurso de integrar forças e informações da prefeitura com o governo do Estado no combate aos impactos das chuvas.

Segundo a equipe de Doria, a prioridade neste primeiro verão é identificar os pontos críticos da microdrenagem, locais em que bocas de lobo e galerias subterrâneas de escoamento de águas da chuva costumam falhar.

Nesses locais, Doria deverá intensificar a limpeza, para evitar que eles entupam com o acúmulo de lixo, terra e folhas. Segundo a gestão Haddad, 82 intervenções deste tipo foram feitas na capital. Muitas envolvendo caminhões munidos de jatos de água para limpar a rede subterrânea de drenagem.

"Com pouco tempo para entregar obras estruturais, é o que pode ser feito. Além disso, a comunicação com a população deve ser reforçada para evitar áreas sob risco de alagamentos", diz o pesquisador do IPT Gerson Salviano, especialista em drenagem.

As grandes obras como piscinões e revitalização de rios só deverão ser iniciadas por Doria a médio e longo prazos. O tucano também promete finalizar um pacote de 13 intervenções prometidas por Haddad (que só deve terminar 3 delas), elevando em 50% a capacidade de reservação.


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