Folha de S. Paulo


Para reduzir fila de exames, Doria quer overbooking no agendamento

Marcus Leoni / Folhapress
Wilson Pollara anunciado como secretário da Saúde da cidade de São Paulo na gestão Doria
Wilson Pollara anunciado como secretário da Saúde da cidade de São Paulo na gestão Doria

O futuro secretário municipal da Saúde na gestão do prefeito eleito João Doria (PSDB), Wilson Pollara, afirmou nesta quinta-feira (27) que vai apostar em uma prática parecida com o overbooking com o objetivo de diminuir a fila por mais de 417 mil exames.

O overbooking ocorre quando as companhias aéreas vendem mais passagens do que o número de assentos disponíveis na aeronave. No sistema de saúde, o procedimento consiste na marcação de mais exames do que a capacidade, contando que parte das pessoas faltará ao compromisso.

A gestão Fernando Haddad (PT) diz já adotar esse tipo de prática desde 2013, no limite de 20% das agendas. Com isso, afirma, as faltas caíram de 34,5% em dezembro de 2012 para 26,7% neste ano. Com Doria, a estratégia poderia ser ampliada, já que o tucano defende implantá-la também por meio da iniciativa privada.

Pollara, hoje secretário-adjunto da Saúde no governo Geraldo Alckmin (PSDB), foi anunciado com outros quatro futuros secretários : Júlio Semeghini (Governo), Bruno Covas (Prefeituras Regionais), Cid Torquato (Pessoa com Deficiência) e Anderson Pomini (Negócios Jurídicos).

"Temos de 25% a 30% de absenteísmo nas agendas. Isso significa que você marcou um exame para daqui três, quatro meses e a pessoa não esperou", disse. "Se nós fizermos tipo um overbooking, colocar mais 20% nas agendas, como o avião que faz o overbooking, nós podemos perfeitamente absorver isso em muito pouco tempo."

Pollara afirmou que, no caso de mais pessoas comparecerem ao exame, todas serão atendidas. "Se forem duas pessoas ao mesmo tempo, vamos atender. Aí nós pagaremos o excesso", disse.

O futuro secretário prometeu implantar rapidamente o chamado "Corujão da Saúde", promessa de campanha de Doria. A ideia é usar as instalações dos hospitais privados das 20h às 8h por um ano, para zerar as filas de exames.

"O prefeito me pediu para que no dia 2 de janeiro já tenhamos toda a rede acessória, que vai ser somada à que já temos hoje", disse.

Secretários de Doria

Ele também anunciou um pente-fino na fila de exames, com objetivo de detectar se parte das pessoas ainda necessita do procedimento. Além disso, disse ser necessário melhorar o atendimento na área de saúde da família.

Uma ideia da gestão é fazer uma espécie de Poupatempo da saúde, utilizando a experiência da Rede Hora Certa, criada por Haddad.

Especialistas se dividem sobre a estratégia do overbooking, mas concordam que a redução das filas passa por um conjunto de medidas muito além disso -como melhora do tratamento primário e do controle dos exames.

Mario Scheffer, professor de medicina preventiva da USP, afirma que as práticas da iniciativa privada, como o overbooking, nem sempre surtem efeito na saúde pública. "O dilema vai ser entre a capacidade desperdiçada por excesso de cancelamento e a falta de capacidade para atender. Nesse último caso, imagine a frustração, o impacto entre os pacientes que não vão ter o atendimento por falta de capacidade", diz.

Ele cita uma cadeia de defeitos que provocam a fila e, ao mesmo tempo, o alto índice de absenteísmo. "Se de fato houver um investimento maior e melhoria da atenção primária, um dos efeitos é a maior adesão ao tratamento e confiança no serviço", diz.

O médico João Ladislau Rosa, superintendente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, diz não se opor ao overbooking. "Está certo buscar solução."

Ele diz ser preciso qualificar a fila. "Muitos exames são pedidos desnecessariamente. Outros exames são questões que já foram resolvidas."


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