"Meu nome não é conhecido, então não tenho rejeição em lugar nenhum", comemora José Arivaldo Rodrigues, 48, eleito vereador de São Paulo pelo PHS (Partido Humanista da Solidariedade) sob o codinome Zé Turin.
Esta foi a terceira campanha eleitoral do empresário do ramo de açougues, o Grupo Turin, de Santo Amaro (zona sul). Ainda assim, trata-se de um ilustre desconhecido.
Turin já passou por três partidos. Em 2010, foi candidato a deputado estadual pelo DEM. Dois anos depois, concorreu à Câmara Municipal pelo PSDB. Em 2016, conseguiu a vaga pelo nanico PHS. Trata-se de um sonho nascido de uma decepção.
| Zanone Fraissat/Folhapress | ||
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| Ilustre desconhecido, o empresário Zé Turin da Zona Sul de São Paulo foi eleito vereador pelo PHS |
"O Zé fez campanha para políticos na zona sul, achando que fariam o bem. Acabou decepcionado. Aí resolveu ele mesmo concorrer", explica Valéria de Moura Rodrigues, 44, sua companheira há 25 anos e mãe de seus dois filhos. Segundo ela, o sonho aos poucos se tornou obsessão, gerando "problemas familiares".
"Cada campanha que faz, ele queima dois de seus açougues", ironiza uma liderança da zona sul que pede para não ser identificada. Zé Turin foi o principal financiador de sua campanha –investiu R$ 70 mil, 80% do total gasto.
O empresário é alvo de nove processos movidos pela Prefeitura de São Paulo, que lhe cobra mais de R$ 133 mil de IPTU atrasado. Também é cobrado judicialmente por um empréstimo bancário não pago no valor de R$ 1,1 milhão.
Na Justiça Federal, Zé Turin acabou sendo condenado em primeira instância a dois anos e quatro meses de reclusão por declaração falsa às autoridades fazendárias. Mas ele recorre da condenação.
Coincidência ou não, a declaração de bens do futuro vereador à Justiça Eleitoral apresenta imóveis com apenas 10% do valor calculado pela prefeitura. Um deles, declarado no valor de R$ 188.922, tem valor venal de referência de mais de R$ 2 milhões.
A declaração, no entanto, está amparada por lei, que não obriga a divulgação de valores atualizados dos imóveis.
"Pode ser que falte um pequeno ajuste aqui", diz. Sobre os processos, Zé Turin tergiversa: "São coisas pequenas. Estão em negociação."
CAMPANHA DE FÉ
Nascido em Santa Maria do Salto (MG), a 824 km de Belo Horizonte, Zé Turin é o caçula de dez irmãos. Em São Paulo, aos 15 anos entrou para o comércio de carnes como operador de caixa. Anos depois, seria convidado para uma sociedade no setor. Técnico em contabilidade, abandonou um curso de administração.
| Editoria de Arte/Folharess |
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Católico fervoroso, auxilia no trabalho social de igrejas e outras instituições religiosas. "Minha campanha foi de fé e dos amigos, entre eles, pastores e padres", admite.
Em seu perfil no Instagram, imagens sugerem que pastores exibiram um cartaz com a foto e o número do então candidato no púlpito durante cultos, o que é proibido por lei.
Zé Turin nega. "Não houve, da nossa parte, liberação para isso aí. Se alguém fez campanha, eu desconheço", diz, sem explicar como o registro foi parar em seu perfil.
Amante de animais, Zé Turin tem gatos e cachorros em casa, além de dois cavalos em um rancho em Parelheiros. Participa de romarias de Santo Amaro a Pirapora do Bom Jesus, num trajeto de cerca de 60 km e quase 13 horas.
A paixão pelos cavalos é motivação para um projeto. "Quero ajudar a criar um hospital veterinário municipal 24 horas para animais de pequeno, médio e grande porte."
Dos 12 planos apresentados na campanha, estão desde aulas de música instrumental na rede pública até a desburocratização do acesso de ONGs a convênios municipais.
As ideias, de acordo com Zé Turin, surgiram da experiência nas ruas e no auxílio a obras assistencialistas, quando se une a outros empresários para promover almoços beneficentes, geralmente
fornecendo carnes.
"Gosto de ver as pessoas confraternizando em um churrasco. Mas eu mesmo estou proibido de comer por questão de peso", diz.