Folha de S. Paulo


Após 14 meses de queda, mortes no trânsito sobem pela 1ª vez em SP

Márcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Folhapress
Acidente grave na Avenida Miguel Conejo no bairro da Freguesia do Ó. Segundo informações oito pessoas estavam no veículo que colidiu com um poste, sete pessoas ficaram feridas e uma morreu no local do acidente, na manhã desta segunda-feira (03).
Acidente grave na Avenida Miguel Conejo no bairro da Freguesia do Ó

A cidade de São Paulo teve em agosto a maior quantidade de mortes no trânsito em 14 meses. E, pela primeira vez neste ano, houve aumento –de 14%– no número de vítimas em relação ao mesmo mês de 2015, interrompendo uma sequência de sete quedas consecutivas em 2016.

Os dados foram levantados pelo Infosiga SP, sistema de informações do governo paulista, que inclui tanto os registros da Polícia Civil como os atendimentos das Polícias Militar e Rodoviária Federal.

Os 103 mortos em acidentes de trânsito superaram os 90 de agosto de 2015, primeiro mês completo após a redução das velocidades máximas nas marginais Tietê e Pinheiros, mas antes da mudança da gestão Fernando Haddad (PT) em outras vias, como Rebouças e corredor 23 de Maio.

De modo geral, os dados de queda das vítimas na cidade no acumulado do ano ainda são positivos –17%, enquanto no Estado baixaram 6%. Em agosto, apesar da elevação na capital paulista, as mortes caíram 5% no Estado.

Especialistas dizem que os resultados de um único mês estão sujeitos a oscilações que não permitem falar em tendência. Mas reconhecem que é preciso se manter em alerta. "É alarmante, mas ainda não denuncia nada", afirma Luiz Célio Bottura, consultor em trânsito e transporte.

Acidentes de trânsito em São Paulo em agosto

"Pode ser uma coisa pontual", diz Paulo Bacaltchuck, professor do Mackenzie e especialista em mobilidade urbana, ressaltando não ter havido uma mudança no trânsito que justifique a alteração.

Para Bacaltchuck, uma eventual recuperação da atividade econômica poderia, em tese, aumentar a frota nas ruas e, com isso, a exposição aos acidentes. "Mas a crise continua", pondera.

Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina e Tráfego), diz que a redução dos limites de velocidade é fator importante na redução recente de mortes, mas cobra outras medidas para inibir acidentes. "Tem que ter educação, fiscalização e presença do fiscal de forma ostensiva."

Mortos em acidentes - Agosto é o mês com mais óbitos desde reduções na velocidade em São Paulo

A maior parte das mortes (52) em agosto em São Paulo foi em atropelamentos. Como mostrou a Folha na última quarta-feira (12), os acidentes fatais nas marginais Tietê e Pinheiros caíram pela metade um ano após a implantação dos limites mais baixos nessas pistas, segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

O prefeito eleito João Doria (PSDB) disse que vai aumentar as máximas nessas pistas –de 70 km/h para 90 km/h na expressa, de 60 km/h para 70 km/h na central e de 50 km/h para 60 km/h na local. Admitiu, porém, manter 50 km/h em trechos específicos.

Os dados do Infosiga SP mostram que, em agosto, as mortes no trânsito foram em locais bastantes dispersos –das 103 na capital inteira, 5 foram nas marginais (quatro na Tietê e uma na Pinheiros).

MORTES NO TRânsito - Variação das mortes na capital,em relação ao mesmo mês de 2015, em %

O trecho da rodovia Fernão Dias na cidade teve a maior quantidade de vítimas: quatro (três delas num mesmo acidente, com um ônibus, um carro e um caminhão).

O Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, programa da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) responsável pelo Infosiga, informou que, na capital, atua com levantamento, sem análise dos dados.

A CET também não comentou as estatísticas do Estado. Ela adota metodologia diferente (com análise de dados do IML, mas que, até junho, quando houve a última atualização, mantinha tendência do Infosiga, criado em 2015).


Endereço da página:

Links no texto: