Folha de S. Paulo


Médico demora dois meses só para olhar exame, diz paciente

Propostas para saúde do prefeito eleito João Doria

Um ano. Esse foi o tempo que a dona de casa Maria, 54, ficou sentindo dores antes de conseguir fazer uma cirurgia para tirar as pedras na vesícula que a incomodavam. Embora a gestão Fernando Haddad (PT) diga que o tempo médio de espera por uma cirurgia tenha reduzido de seis para cinco meses, não foi o que ela sofreu.

Após meses, finalmente chegara a data da operação, em setembro, no hospital do Campo Limpo (zona sul). Maria fez jejum e foi ao local, mas o procedimento foi remarcado em cima da hora. Só ocorreu um mês depois. Cirurgia feita, outros problemas. Primeiro, não havia leitos no pós-operatório. Depois, quando conseguiram, a cama estava quebrada.

"Se eu quiser que ela se mexa, que coloque a perna para cima, preciso comprar uma cama?", revolta-se Sueli Mendonça, 55, prima de Maria –ela continuava internada na semana passada. A prefeitura nega faltar leitos na unidade.

A espera de meses pelo atendimento foi o problema mais comum citado por pacientes que a reportagem abordou na porta de unidades da rede municipal, entre hospitais e postos de saúde, do Campo Limpo ao M'Boi Mirim, zona sul de São Paulo.

Em certos casos não é a cirurgia ou outros procedimentos complexos que demoram, mas a análise de exames já realizados, como conta a costureira Angela Lessa, 52. "Demora um mês, um mês e meio para o médico só olhar um exame. Até lá, se tiver alguma coisa grave", diz ela, após sair de uma consulta em uma UPA 24h (Unidade de Pronto Atendimento).

Foi o que ocorreu com o manobrista Luis Bezerra, 46. Ele diz que após sentir dores no peito e constatar pressão alta, até conseguiu atendimento rápido, mas difícil mesmo foi achar médico para conferir o exame pedido.
"Demorou dois meses. Não queriam nem deixar eu fazer os exames porque não tinha consulta agendada e o médico tinha que olhar o resultado logo depois", afirma, enquanto esperava a filha ser atendida no M'Boi Mirim.

MUITAS SIGLAS

UPA, AMA, UBS. Cada uma dessas siglas tem um significado —Unidade de Pronto Atendimento, Assistência Médica Ambulatorial e Unidade Básica de Saúde, respectivamente. A dona de casa Maria de Lourdes da Conceição, 37, se diz perdida quando precisa de atendimento. "O pior é quando você vai a um lugar e te encaminham para outro."

NOVA GESTÃO

O Corujão da Saúde, uma das principais propostas para a saúde do prefeito eleito João Doria (PSDB), não resolve os problemas, dizem pacientes ouvidos pela Folha. O programa pretende agendar exames na madrugada.

"É bom porque pode tirar o acúmulo de pessoas durante o dia. Mas eu, mulher, sozinha, não iria. Já ia chegar lá tensa", diz Sueli Mendonça. "A ideia é boa, mas tem que pensar como fazer. Ônibus à noite é difícil", diz o segurança André de Jesus, 25.

Fila na saúde

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Quem é quem

Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Oferecem consultas, curativos, vacinas, remédios, tratamento odontológico e encaminhamento para especialidades, sempre com hora marcada

Estratégia Saúde da Família (ESF) Programa federal prevê equipes formadas por agentes comunitários, enfermeiros, médicos e dentistas que atuam em UBSs; na capital, são 1.318 equipes

UBSs/AMAs Integradas As duas unidades funcionam no mesmo prédio; o objetivo é oferecer atendimentos complementares, com acompanhamento do paciente

Assistência Médica Ambulatorial (AMAs) Fazem atendimentos não agendados de baixa e média complexidade em pediatria, clínica médica, cirurgia geral e ginecologia

Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) Em horário integral, atendem emergências e urgências; é o serviço intermediário entre a atenção básica e os hospitais

Prontos-socorros municipais Assim como as UPAs, fazem atendimentos de urgência e emergência

AMAs de Especialidades De segunda a sábado, oferecem consultas e exames em áreas como ortopedia, cardiologia e neurologia; os agendamentos são feitos pelas UBSs

Rede Hora Certa Realizam procedimentos clínicos, diagnósticos, terapêuticos e cirúrgicos com permanência por até 12 horas; agendamento é feito pelas UBSs

Hospitais municipais Recebem urgências e emergências, além de casos de maior complexidade; também servem de retaguarda para UBSs e AMAs


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