Folha de S. Paulo


Vou me meter nos vários temas e dialogar com Doria, diz Suplicy

Nas eleições municipais deste ano, em meio ao enfraquecimento do PT nas urnas pelo país, o ex-senador Eduardo Suplicy, figura histórica do partido, foi o vereador mais votado da história, com mais de 301 mil votos.

Em entrevista à Folha, o petista afirma que, apesar de encampar a oposição, vai dialogar com o prefeito eleito João Doria (PSDB), com quem já combinou de se encontrar antes da posse, em janeiro. "Vou me meter em vários assuntos", afirma Suplicy.

O petista vai propor audiências públicas para examinar cada privatização anunciada por Doria, como a venda do Anhembi e do autódromo Interlagos, e a concessão dos parques municipais, incluindo o Ibirapuera.

Sobre a elevação dos limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, defende a realização de plebiscito.

Suplicy já foi vereador no final dos anos 80, na gestão de Luiza Erundina (na época do PT, hoje no PSOL), quando chegou a presidir a Câmara. Mas deixou a Casa antes do final do mandato, ao ser eleito senador, cargo no qual permaneceu durante 24 anos.

Desta vez, ele também evita se comprometer com a permanência no posto de vereador pelos quatro anos de mandato. "Eu diria que está tudo em aberto", afirma.

*

Folha - Como o sr. avalia a eleição de João Doria?

Eduardo Suplicy - Eu me empenhei muito para que o Fernando Haddad fosse reeleito. Ele tem sido um excelente prefeito, é uma pessoa extremamente séria e com capacidade muito significativa. Foi um dos melhores ministros da Educação que o país já teve. Mas nós precisamos respeitar a democracia.

Provavelmente, a oposição na Câmara Municipal terá só 11 dos 55 vereadores a partir do ano que vem, sendo 9 do PT e 2 do PSOL. Será difícil, não?

Sim, mas nossa função é fiscalizar o Executivo. Na Assembleia Legislativa tem sido bem difícil para os deputados estaduais da oposição. A muito custo e com a pressão dos estudantes, conseguiu-se implantar a CPI sobre merenda escolar.

Que tipo de vereador o sr. vai ser na Câmara de São Paulo?

Em todos os momentos em que eu fui de oposição no Senado, como nos anos do Fernando Henrique Cardoso, sempre fiz avaliações críticas, mas também dei sugestões. Espero que haja toda a disposição de dialogar com o prefeito Doria e seus secretários. Estou preparado para entrar em diálogo pessoal com ele [Doria]. Marcamos de nos encontrar antes da posse, em janeiro. É claro que vou me meter nos vários assuntos [risos].

Na campanha, Doria disse que vai encerrar o Braços Abertos [programa para atender dependentes químicos na cracolândia], uma das marcas da gestão Haddad, e do qual o sr. participou como secretário de Direitos Humanos. E agora? Como vê essa iniciativa de acabar com o programa?

Depois da eleição, o Doria me ligou. Pedi a ele para visitar a região [da cracolândia]. Ele precisa conversar com os participantes do Braços Abertos para sentir os bons resultados. Muitos deles reduziram drasticamente o consumo de crack, de 40 pedras por dia para uma ou duas. Muitos estão estudando, trabalhando e retomaram o contato com as famílias.

Doria também prometeu vender o Anhembi e o autódromo de Interlagos. O que o sr. pensa dessas propostas?

São patrimônios da cidade. É preciso discutir essas propostas com a população. Serei um dos primeiros a propor audiências públicas para examinar cada uma das vantagens e desvantagens dessas iniciativas.

Pessoas da cooperativa dos ambulantes do Ibirapuera também me ligaram. [Doria prometeu repassar a administração do parque à iniciativa privada, que poderia explorar o comércio no local]. A cooperativa existe desde o ano 2000. Eles estão preocupados com o seu destino.

E sobre o aumento das velocidades máximas nas marginais Tietê e Pinheiros?

Pretendo propor um plebiscito sobre esse assunto.

O sr. foi o vereador mais votado da história do país. E se o PT pedir para o sr. se candidatar a deputado ou senador em 2018?

Fui eleito para o exercício de quatro anos de vereador e vou levar isso muito a sério. Muitos eleitores me parabenizaram pela eleição de vereador, mas disseram que querem me ver no Senado. Eu diria que está tudo em aberto, levando em conta, também, que tenho 75 anos. Espero continuar com boa saúde.


Endereço da página:

Links no texto: