Folha de S. Paulo


Moradores ficam em pânico após fuga em massa de presos no interior de SP

Ao se aproximar da fazenda em que iria negociar uma máquina agrícola, o produtor rural João Paulo dos Santos viu um incêndio, policiais correndo e presos em fuga.

Como ele, moradores do distrito de Jurucê, em Jardinópolis (a 329 km de SP), se assustaram com a rebelião e fuga em massa de 470 presos do CPP (Centro de Progressão Penitenciária) do município nesta quinta-feira (29). Um clima de pânico se alastrou no local, que já tinha sido contra a instalação da prisão, distante três quilômetros.

"Não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Não sabia se parava o carro e ficava quieto ou se acelerava para ir embora", disse Santos.

O medo não é novo. Embora a prisão seja no regime semiaberto –e opere sem vigilância armada e apenas com grades, sem muralha–, o anúncio de sua criação e o período que antecederam sua inauguração, em 2013, foram marcados por críticas de moradores do distrito, que protestaram em frente ao CPP.

"Ninguém queria [o presídio], porque sabia que uma hora isso poderia acontecer, e aconteceu. Aí as pessoas ficam em pânico, trancam casa", disse o aposentado Jorge Santos, que mora em Jardinópolis. Sua vizinha, Maria Auxiliadora Moraes, afirmou não ter saído de casa desde que soube da fuga.

Dos 470 presos que fugiram a partir das 9h da última quinta, 338 foram recapturados até esta sexta-feira (30), de acordo com a SAP (Secretaria de Estado da Administração Penitenciária).

Restavam, portanto, 132 soltos nas ruas, agravando o temor em pessoas de cidades próximas –como a publicitária Ana Paula Freitas, que trafegava na rodovia Candido Portinari, em frente à unidade prisional, durante perseguição policial aos fugitivos. "Parecia cena de filme, com fogo de um lado, carros e mais carros de polícia de outro, trânsito todo lento na pista."

Editoria de arte/Folhapress
Onde Fica Jardinópolis

OPOSIÇÃO

Antes de sua inauguração, o CPP foi alvo de disputa judicial com a prefeitura. O governo local era contra por alegar não ter como atender a demanda por serviços, como saúde e coleta de lixo. Dez meses após a abertura, o local já tinha registrado fugas de 18 presos, nove deles na véspera do Natal de 2013.

Os detentos recapturados perderão o benefício do semiaberto e serão levados a prisões no regime fechado. Familiares de presos ouvidos pela reportagem afirmaram que a superlotação e a suspensão de visitas motivaram a rebelião e a fuga em massa. Com capacidade para 1.080 presos, o local abrigava 1.861 no dia do motim.

"Uma rebelião num CPP, que é semiaberto, gera muita preocupação. Como a situação poderia estar insustentável assim num lugar que poderia ser mais leve?", questionou o advogado criminalista José Carlos Abissamra Filho, diretor do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), ONG que atua na área do direito criminal.

SINDICÂNCIA

Segundo a SAP, uma sindicância foi instaurada pela corregedoria para investigar a origem do motim. A pasta diz que ele é resultado de "descontentamento com a revista rotineira que foi realizada, cujo objetivo é a apreensão de celulares, drogas e outros objetos proibidos".

Duas mortes são investigadas –o corpo de um preso, cujo nome não foi revelado, foi achado carbonizado num canavial, enquanto um pescador relatou à polícia que outro detento teria se afogado ao tentar fugir no rio.

Prisões superlotadas em SP


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