Folha de S. Paulo


Arrastões se repetem e deixam Imigrantes e Anchieta em alerta em SP

Domingo, 20h, volta do litoral paulista pela rodovia dos Imigrantes. O trânsito para no km 12, já na capital. "Começamos a ver motoristas na contramão, no acostamento, buzinando, gritando: 'volta, tem arrastão'. Virou um pânico", conta Rui Mendes Garcia, 61, policial aposentado que retornava de Santos em uma van com 15 passageiros.

A cena na noite do dia 11 deste mês era praticamente uma repetição de outra, flagrada por câmeras da estrada nove dias antes, no mesmo lugar –mas em plena manhã, às 9h, e não à noite. Em ambos os casos, troca de tiros com PMs, suspeitos baleados, motoristas assustados. E são só os episódios mais recentes de uma série de crimes nos últimos meses na principal rota do litoral de SP.

Os assaltos na Imigrantes cresceram 50% neste ano, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública –saltaram de 110 para 165, de janeiro a maio de 2016 em relação ao mesmo período de 2015. Na Anchieta, caiu, mas, no sistema como um todo, houve um aumento de 3,5%.

O sinal de alerta já mobilizou policiais em operações no entorno da Imigrantes. Na noite de quarta (14), por exemplo, um rapaz desempregado, de 33 anos, foi preso sob suspeita de roubar seis carros nessa rodovia desde junho -e, com os veículos, assaltar seis vezes a praça de pedágio do km 16.

Parte dos ataques tem sido feita por adolescentes, segundo policiais, que apontam dois alvos comuns nos crimes: 1) carros parados no trânsito lento, em horário de pico; 2) motoristas que param no acostamento à espera do fim do horário do rodízio de veículos.

PEDRAS

Também houve casos de ataques com pedras, para forçar a parada dos veículos. Num deles, em maio, Reinaldo Lima de Souza Júnior, 17, morreu após ser atingido por uma pedra de mais de 20 kg na Imigrantes, na altura do km 59, na região de Cubatão.

Os bandidos visavam a parada do carro onde ele estava. Para coibir os crimes, a concessionária Ecovias construiu um paredão de mais de um quilômetro no local, isolando a via da comunidade no entorno, a Vila Esperança.

O empresário Marcos Santos, 42, da Praia Grande, diz que os roubos são comuns na região e que a situação deve piorar com a proximidade do verão e alta de turistas. "Se quiser perder a moto, é só passar por aqui à noite."

Em um posto próximo, frentistas relatam que é comum motoristas perguntarem, assustados, se é seguro passar pelo trecho. "Às vezes descem grupos de ciclistas, alvo fácil dos roubos", afirma Cinara Vieira, 40, dona de casa.

REGISTROS

A delegada Cibele Monteiro da Silva, do 97° DP (Americanópolis), que atende os casos do km 12, diz ainda que muitas vítimas nem registram boletim de ocorrência –algo prejudicial às investigações. "Do arrastão do dia 2 [flagrado por câmeras], ninguém veio aqui até hoje. É extremamente importante [registrar a ocorrência] até para manter os infratores presos."

Policiais rodoviários ouvidos pela Folha dizem haver agentes insuficientes. Eles citam os km 19 e 26 da Anchieta, onde a rodovia é rodeada por moradias, como outros pontos críticos.

Em abril, a van onde estava Beatriz Sampaio, 21, na saída de Santos, foi parada por bandidos com um caminhão para fechar a Anchieta. "Se tivesse polícia, não teria acontecido", reclama a estudante, que voltava da faculdade.

CÂMERA INTELIGENTE

"Câmeras inteligentes", com sensor infravermelho que possibilita visão noturna e zoom de alta capacidade, serão as novas armas para conter os arrastões nas rodovias que ligam a capital paulista ao litoral sul do Estado.

Os 16 equipamentos, que juntos custaram R$ 3 milhões, serão de uso exclusivo das autoridades e começarão a operar até 30 de outubro, segundo a Ecovias, concessionária que administra as rodovias Anchieta e Imigrantes.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que prendeu 161 pessoas em flagrante e apreendeu 13 armas de fogo nas duas rodovias de janeiro a julho deste ano.

As novas câmeras de segurança serão integradas a um sistema automático já usado pela Ecovias, que aciona automaticamente policiais quando detecta veículos parados ou pessoas caminhando ao longo da rodovia.

A empresa diz ainda que desembolsou R$ 29 milhões nos últimos cinco anos em um convênio com a Polícia Militar Rodoviária, no qual forneceu 64 veículos. Além disso, outros R$ 12,8 milhões foram gastos com a construção de muros e implementação de iluminação em trechos mais críticos da Imigrantes, diz a Ecovias.

A empresa também afirma ter colocado câmeras adicionais em locais de risco, barreiras de concreto, telamento e cercas vivas no canteiro central das pistas para impedir o cruzamento de pedestres, e bloqueadores de motos em passarelas.

A secretaria do governo Geraldo Alckmin (PSDB) disse que o efetivo de policiais é adequado para o policiamento das rodovias e que o patrulhamento é direcionado a locais com maior possibilidade de ocorrência de crimes. A pasta disse ainda que 5.234 novos militares estão em formação e que o Estado autorizou a abertura de concurso para preencher 5.400 novas vagas de soldados da Corporação.

Neste ano, o policiamento "continua reforçado" por equipes do batalhão de Ações Especiais, Rota, Rocam, Choque, Denarc, Deic e Polícia Civil, diz a secretaria.


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