Folha de S. Paulo


Chacina com 19 mortos na Grande São Paulo pode ficar impune, diz promotor

Avener Prado/Folhapress
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 14-08-2015: Bar na rua Antônio Benedito Ferreira, no bairro Munhoz Junior, em Osasco, onde por volta das 20h30 Uma chacina deixou dez mortos. A noite mais violenta do ano na Grande São Paulo deixou ao menos 20 pessoas mortas e sete feridos em Osasco e Barueri, em um intervalo de aproximadamente duas horas e meia, na noite desta quinta-feira (13). Na maioria dos casos as ações foram semelhantes, homens encapuzados estacionaram um carro, desembarcaram e dispararam vários tiros contra as vítimas. Em alguns locais dos crimes, testemunhas disseram que os assassinos perguntavam por antecedentes criminais, o que definia vida ou morte das pessoas. (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO) Código do Fotógrafo: 20516
Bar em Osasco, na Grande São Paulo, onde morreram oito das 19 vítimas da chacina

Uma das maiores chacinas da história da Grande SP, com 19 mortos em ataques em Osasco e Barueri, completa um ano no sábado (13) com provas frágeis contra suspeitos e um prognóstico desalentador da própria Promotoria.

"Vai ser bem difícil a condenação. Porque, de fato, não tem uma prova contundente, irrefutável", diz Marcelo Alexandre de Oliveira, promotor responsável pela acusação contra três PMs e um guarda municipal de Barueri.

De uma lista de quase 30 suspeitos levantados pela investigação, esses quatro são os únicos que estão presos e aguardam definição da Justiça sobre se vão a júri popular. A principal série de ataques resultou na morte de 19 pessoas. A investigação atribuiu ainda outros quatro assassinatos anteriores ao mesmo grupo, como retaliação à morte de um PM e de um guarda –crimes sem participação de vítimas da chacina.

Um ano depois, as famílias dos mortos enfrentam dificuldades e vivem com medo. Alguns dependem de doações e parte até se mudou de cidade.

Cerca de cem pessoas, incluindo PMs e guardas, foram ouvidas por membros de uma força-tarefa com as polícias Militar e Civil e a Promotoria. O caso foi elencado como prioridade pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). "Todos estão atuando juntos para rapidamente esclarecer o episódio e punir os criminosos", afirmou ele na época.

Agora, as perspectivas são pessimistas. O promotor Oliveira diz não acreditar na inocência dos suspeitos presos, mas afirma que eles evitaram deixar evidências —como armas, veículos e ligações comprometedoras em celular. Além disso, diz que parte dos jurados pode ter medo da polícia e parte, ser tolerante a esses crimes. "No tribunal, com câmera [mostrando um PM matando], eu já vi policial ser absolvido. Imagina neste caso, sem câmera nem foto?"

Nesta sexta (12), Oliveira declarou que "as provas do processo, analisadas de maneira conjunta, conferem inequívoca certeza acerca do envolvimento dos quatro acusados na chacina". "As provas, analisadas conjuntamente, principalmente quando confrontadas com os álibis apresentados pelos réus, não deixam dúvidas a respeito do envolvimento deles no lamentável e triste episódio", disse.

Avener Prado/Folhapress
SAO PAULO, SAO PAULO, BRASIL, 10-08-2016: Bar na rua Antônio Benedito Ferreira onde 8 pessoas foram mortas. Chacina de Osasco que deixou 19 mortos, completa um ano neste sábado (13/08/2016). (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO) Código do Fotógrafo: 20516
Bar na rua Antônio Benedito Ferreira, em Osasco, um ano depois de chacina

Os principais indícios contra os quatro presos são relatos de três testemunhas, mas que acabaram fragilizadas. Um dos suspeitos foi reconhecido por um sobrevivente, mas este admitiu ter problemas na vista e que estava sem óculos no dia do crime. Outro foi citado por um vizinho, que disse ter ouvido a mulher do policial acusá-lo pela chacina. Mas esta testemunha pediu para não depor na Justiça.

Um rapaz que dizia conhecer um policial chegou a apontá-lo como participante, mas deu informações que não se comprovaram, por se referir a um PM não investigado. Por fim, a acusação cita uma troca de mensagens por celular na noite do crime entre dois dos suspeitos –mas sem palavras, só um símbolo de positivo com um dedão.

A Secretaria da Segurança Pública da gestão Alckmin diz que os inquéritos foram concluídos, encaminhados à Justiça e alvo de exaustiva investigação. "Não houve provas do envolvimento de outras pessoas no crime." A pasta afirma que sete PMs respondem a processo de demissão –além dos três denunciados, outros quatro investigados, mas que não se tornaram réus. Investigadores avaliam que no mínimo dez pessoas participaram do crime.

Advogados dos suspeitos dizem esperar pelo arquivamento. "Apresentaram alguns para dar resposta à sociedade", diz Abelardo Julio da Rocha, defensor do guarda Sérgio Manhanhã. Defensora do PM Fabrício Eleutério, Flávia Artilheiro diz que a pressão "comprometeu a qualidade das investigações".

"Colocaram um inocente na cadeia", diz João Campanini, advogado do policial Victor Cristilder. O defensor de Thiago Henklain não respondeu.


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