Folha de S. Paulo


Praia, loja e escola mudam rotina após onda de ataques em Natal

João Pedro Pitombo/Folhapress
Nata,RN,Brasil 02.08.2016 Praia de Ponta Negra, area turistica de Natal. Cadeiras vazias na faixa de areia. Foto: Joao Pedro Pitombo/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Praia de Ponta Negra, área turística de Natal. Cadeiras vazias na faixa de areia

Mesmo com o anúncio da chegada de mil homens do Exército ao Rio Grande do Norte, nesta quarta-feira (3), o turismo e a vida dos moradores seguiam distante da normalidade em Natal após a onda de ataques no Estado desencadeada deste sexta-feira (29).

Além de praias e lojas de artesanato vazias, os ataques provocaram a redução de até 30% da frota de ônibus –que tem sido recolhida às 20h30.

Sem ônibus à noite, o Centro Universitário Facex cancelou as aulas no período, e a Faculdade Maurício de Nassau adiou o início do semestre letivo. Colégios municipais reabriram nesta quarta.

Os ataques em série, com ônibus queimados e bases policiais atacadas, fizeram cair o movimento em um dos principais pontos turísticos da capital potiguar, a praia de Ponta Negra.

Nesta quarta, quando a reportagem percorreu a orla, poucos eram os turistas no local. "O pessoal está com medo de sair dos hotéis", disse Carlos Alberto Salgueiro, 34, que há dois anos vende passeios na orla.

Ao menos 10% dos tours que foram agendados por ele nos últimos cinco dias foram cancelados. Nesta quarta (3), até 14h, nenhum havia sido vendido. "O que é atípico", garante.

Por meio de vans, a empresa em que atua leva até 80 passageiros, por dia, para praias como Pipa, Genipabu e Maracajaú – as duas últimas no litoral norte, área em que a demanda recuou mais, afirma Salgueiro. "Hoje (quarta) saíram apenas 20 turistas. Alguns ficam com medo de os veículos serem atacados no caminho".

Bráulio Morais de Lana, 36, turismólogo que também vende passeios na orla, foi outro a perceber queda no movimento nesta quarta, mas diz que "a noite o pessoal sente mais". "Está todo mundo evitando andar tarde por aí. Esses ataques têm inibido as pessoas".

O empresário Geraldo Mateus da Silva, 58, de Minas Gerais, está de férias na cidade, com mais 13 parentes. Apesar do clima, ele diz se sentir mais tranquilo com o Exército nas ruas e não quer mudar sua programação. "Vamos fazer o máximo de passeios possíveis. Essa onda (de violência) é pontual e, ao menos para mim, não afeta a imagem da cidade".

Em um centro comercial de artesanato, também na orla, a vendedora Regivânia Oliveira, 36, afirma que o faturamento caiu e que as portas estão fechando mais cedo. "As lojas normalmente funcionavam até 22h. Agora, 20h30 estão parando", diz.

ATAQUES NO RIO GRANDE DO NORTE
Veja as últimas notícias

O boletim mais recente da Secretaria de Estado da Segurança Pública mostra que, desde sexta-feira, o Estado registrou 92 ocorrências, entre as quais 54 incêndios, 24 tentativas de incêndio, 7 disparos contra prédios públicos e proximidades –quatro deles envolvendo artefatos explosivos.

Os ataques, segundo o governo, seriam uma retaliação à instalação de bloqueadores de celular em uma unidade prisional do estado, medida que deve ser estendida a mais presídios ainda este ano. Até a manhã desta quarta, 85 suspeitos de participação haviam sido detidos ou apreendidos, se adolescentes.

LUZES APAGADAS

No domingo (31), parte da vegetação em cima do morro do careca, "cartão postal" da praia de Ponta Negra, foi queimada. A polícia não descarta que o caso esteja relacionado aos ataques.

"Nosso segurança viu o fogo. Também ouvimos áudios nas redes sociais com pessoas ameaçando incendiar outros pontos, inclusive hotéis. Não dá para saber o que é verdade ou não", diz Luciana Meira, 38, gerente de um hotel na praia.

Em meio ao clima de "terrorismo", o hotel passou a apagar as luzes e a trancar as portas a partir das 22h - duas horas mais cedo que o habitual. "Não estamos querendo chamar a atenção de quem passa lá fora", diz a gerente.

Os ataques também reduziram a frota de ônibus nas ruas, o que levou o estabelecimento a bancar corridas de táxi, durante dois dias, para os funcionários. João Batista Caetano, 68, que há 16 atua como taxista em Ponta Negra, afirma que "o número de corridas quase dobrou". "As pessoas estavam sem alternativas".

À beira mar, o movimento também diminuiu. Rahyza Karla, 21, vende porções de camarão com batata frita há dois anos e afirma que o redução de pedidos foi grande. "Nossa média é de 15 a 20 porções por dia. Ontem saíram no máximo cinco e hoje está indo do mesmo jeito".

Cerca de mil homens do Exército chegaram nesta quarta-feira para reforçar a segurança pública em Natal e região metropolitana. Para os vendedores da praia, os efeitos disso são incertos. Uns apostam em solução. Outros veem a possibilidade de os ataques piorarem.

OUTRO LADO

Em nota, o secretário estadual do Turismo, Ruy Gaspar, disse desconhecer dados que apontem queda no turismo e que os ataques registrados até o momento ocorreram em pontos isolados, fora da região turística da cidade.

"Agora, é claro que as notícias veiculadas no Centro-Sul prejudicam nosso turismo e a imagem da cidade, sobretudo para alguém que queira comprar um pacote para Natal, principalmente porque de um tempo pra cá essa venda de pacotes tem sido feita de última hora", disse. Paras Gaspar, porém, o tema insegurança é uma realidade nacional, e o Estado tem tomado medidas para solucionar o problema.


Endereço da página:

Links no texto: