Folha de S. Paulo


Mapeamento inédito aponta maior emissão de poluentes no centro de SP

O rastro de fumaça tóxica deixado pelos caminhões que trafegam pela capital paulista acaba de ser mapeado por uma metodologia inédita desenvolvida por pesquisadores da Poli-USP (Universidade de São Paulo).

Ao contrário da medição oficial, não georreferenciada e feita em 16 pontos pela Cetesb (a agência ambiental paulista), o mapeamento finalizado agora pretende não deixar dúvidas sobre os locais onde se concentra a poluição que sai dos escapamentos dos utilitários –normalmente movidos a diesel.

Ao sul do município, como revela o mapa abaixo, um traço bastante nítido da poluição é do trecho sul do Rodoanel. No miolo paulistano, chama a atenção o centro da capital, como a área do parque D. Pedro, por exemplo, e parte da região oeste. Caso do local onde fica o Ceagesp, central de depósito e distribuição de alimentos da cidade que recebe 12 mil caminhões ao dia.

A linha da marginal Tietê, outro ponto de poluição, também está nítida no mapa, que mostra ainda alta concentração de poluição em áreas da zona norte, em ruas e avenidas do bairro de Santana. Na zona leste, a faixa vertical vermelha à direita do mapa representa toda a extensão da Jacu-Pêssego.

Autora do estudo, a geógrafa especialista em transportes Mariana Lage diz que os resultados obtidos por ela, feitos com dados colhidos durante cinco dias úteis em outubro de 2014, são bastante diferentes aos gerados pelas medições da Cetesb.

"Numa sexta-feira, enquanto o mapa da Cetesb apontava qualidade ruim para toda a região de Itaquera, minha pesquisa mostrou que o pior índice de poluição, na região, concentrava-se no eixo da Jacu-Pessego/avenida dos Trabalhadores, e não em toda a região do bairro", ilustra a pesquisadora.

O mapa surgiu a partir do uso de ferramentas específicas para as análises espaciais. A localização dos estabelecimentos comerciais de São Paulo foi mapeada a partir do banco de dados do Centro de Estudos da Metrópole. A circulação dos caminhões foi rastreada com base nas informações geradas pelo GPS e processadas pelo serviço MapLink.

De acordo com geógrafa, a metodologia desenvolvida por ela, que poder ser replicada no cotidiano de outras cidades, é importante para se ter também uma noção dos horários em que a poluição mais se acumula nos céus.

"Em uma terça-feira, por exemplo, constatei que o pico de poluição ocorria à noite, e não de dia, provavelmente por se tratar de um período em que não há restrição para a entrada de caminhões na cidade", diz a geógrafa.

Estudo coordenado pela ONG Saúde e Sustentabilidade com dados de 2011 mostrou que naquele ano, a poluição do ar contribuiu para a morte de 17.443 mortes no Estado de São Paulo. O que significa mais do que o dobro do número de mortes registradas nos acidentes de carro no mesmo período.

De acordo com os autores da pesquisa, 40% da poluição do ar é causada pelas emissões que saem dos escapamentos de toda a frota de veículos paulista. Para a geógrafa, a metodologia que ela desenvolveu, com base nos dados de São Paulo, poderá ser útil para orientar políticas públicas que tenham como objetivo diminuir as concentrações de poluentes na atmosfera.


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