Folha de S. Paulo


Para sobrinha de Costa e Silva, mudar nome do Minhocão não é democracia

Eduardo Knapp - 22.mai.2015/Folhapress
Elevado que liga a zona oeste à região central da cidade de São Paulo foi concluído em 1971 pelo prefeito Paulo Maluf
Elevado que liga a zona oeste ao centro de São Paulo foi concluído em 1971 pelo prefeito Paulo Maluf

Um dia após o prefeito Fernando Haddad (PT) trocar o nome do elevado Costa e Silva, o Minhocão, para Elevado João Goulart, a sobrinha do marechal que presidiu o país entre 1967 e 1969 disse à Folha que "homens que mudam nomes e derrubam estátuas não são democratas".

"Estão muito enganados se pensam em apagar a história. Verdade e Justiça sempre surgirão, ainda que tardiamente", disse nesta terça-feira (26), por email, Teresinha da Costa e Silva Puglia, 87. Ela é filha do também militar Riograndino da Costa e Silva, irmão do ex-presidente Arthur da Costa e Silva, de quem foi secretário particular em 1969. Arthur morreu durante o mandato. Seu irmão, em 1993.

Na segunda-feira (25), o prefeito retirou a homenagem ao ex-presidente durante a ditadura militar da via –que liga a zona oeste à região central, com conexões para as regiões sul e leste– e decidiu repassá-la ao presidente deposto no golpe de 1964. O elevado foi inaugurado em 1971 pelo então prefeito, hoje deputado federal, Paulo Maluf (PP), que também escolheu o nome do acesso.

A mudança faz parte de um programa que prevê alterar os nomes de pelo menos 40 vias e praças da cidade, que hoje homenageiam personagens do período militar, muitos deles considerados violadores de direitos humanos, assassinos e torturadores.

A declaração de Teresinha se refere também à decisão da prefeitura de Taquari (RS), cidade natal de Costa e Silva, de retirar um busto do marechal instalado em frente à lagoa Armênia, ponto turístico do município.

Teresinha disse à reportagem que a família nunca havia sido procurada para comentar nada em relação ao tio.

"Creio que meu tio Arthur foi o único presidente que realmente deu a vida por este país. Ele era um homem generoso, culto, inteligente que muito lutou pelo progresso da nação", afirmou.

Ela contou que, junto com os filhos, fez protestos em Taquari para evitar a retirada do busto, sem sucesso.

Hoje, o monumento está no museu que leva o nome do tio, instalado na casa onde ele viveu na infância, na mesma cidade.

À Folha, o deputado federal Paulo Maluf disse que a mudança é revanchismo ideológico e que Costa e Silva ajudou São Paulo, diferentemente de João Goulart.

Maluf apoiou a candidatura de Haddad em 2012 à prefeitura. Ambos posaram para foto ao lado do ex-presidente Lula na ocasião.

Rodrigo Coca - 18.jun.2012/Fotoarena/Folhapress
Maluf (à dir.) com Haddad e Lula em sua casa em evento para selar aliança com PT na eleição de 2012
Maluf (à dir.) com Haddad e Lula em sua casa em evento para selar aliança com PT na eleição de 2012

COMISSÃO

A retirada das homenagens faz parte dos desdobramentos da Comissão da Verdade, iniciada em 2011, que investigou as violações de direitos humanos no país cometidas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.

Para a coordenadora-adjunta de Políticas de Direito à Memória e à Verdade da prefeitura, Clara Castellano, o nome de Costa e Silva, ditador responsável pelo AI-5 (Ato Institucional nº 5), não deve ser colocado em destaque na cidade. "Foi no período em que ele era presidente que aumentaram as perseguições políticas, assassinatos e desaparecimentos", disse.

Ela diz que a intenção do programa não é apagar a história, mas disseminar o lema "conhecer para não repetir".

O projeto prevê a colocação de uma placa no local que destaque o nome anterior com a história da pessoa e a apresentação do novo nome.


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