Folha de S. Paulo


Truculência inaceitável, diz Suplicy após ser detido pela PM em SP

Reprodução/RedeTV!
Ex-senador Eduardo Suplicy é detido durante reintegração de posse em SP
Ex-senador Eduardo Suplicy é detido durante reintegração de posse em SP

O ex-senador e candidato a vereador em São Paulo Eduardo Suplicy (PT) chamou de "inaceitável" e "truculenta" sua detenção, na manhã desta segunda (25), pela Polícia Militar, comandada pela gestão Alckmin (PSDB), em reintegração de posse na capital paulista.

"A truculência da Polícia Militar do governo Alckmin é inaceitável. Se fazem isso com um ex-senador da República, imagine o que sofre a população que tanto precisa de apoio", disse o petista em sua página em uma rede social.

Suplicy foi detido em protesto contra a reintegração de posse de um terreno de 11 mil m² da prefeitura no Jardim Raposo Tavares, zona oeste de São Paulo, que começou por volta das 5h. Ele foi levado ao 75º DP para prestar depoimento.

"Fiquei com receio de que pudesse haver uma cena de violência quase que incontrolável. Falei: 'vou me deitar aqui para prevenir e evitar qualquer violência'", afirmou Suplicy na delegacia. Ele diz que foi detido após recusar o pedido de duas oficiais de Justiça para que se levantasse.

Suplicy afirmou não acreditar que houve abuso da polícia. "Teve um momento que estavam me levando com uma certa força, mas eu chamei a atenção, falei 'olha, desse jeito você vai quebrar o meu braço', e aí eles me levaram com maior respeito."

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Em nota, o governo do Estado disse "lamentar que o ex-senador Eduardo Suplicy tenha aproveitado a fragilidade de famílias para tumultuar uma reintegração de posse em cumprimento a uma ordem judicial solicitada pela prefeitura de São Paulo, dona do terreno. Três reuniões prévias foram realizadas e parte das 400 famílias já havia se retirado da área".

O comunicado diz ainda que Suplicy insistiu na obstrução da via mesmo após negociação, por isso a oficial de Justiça deu a ordem de prisão e "à PM, coube cumprir a decisão judicial".

Questionado se houve equívoco na ação da PM, o secretário de Segurança de SP, Mágino Alves, afirmou nesta tarde que Suplicy não deveria ter ido ao local. "Equívoco, se houve, houve do senador Suplicy de comparecer a um local onde já havia uma situação conturbada, desde as 3h já havia uma situação favorável a ocorrer incidentes", afirmou.

"Não posso concordar que alguém que até pouco tempo fez parte da administração municipal vá contrariar uma ação que estava sendo promovida pela Prefeitura de São Paulo, isso me parece um contrassenso", afirmou, se referindo ao cargo de secretário Municipal de Direitos Humanos, que Suplicy ocupou até abril.

O terreno pertence ao município e, segundo a gestão Fernando Haddad (PT), a área apresenta risco elevado de desabamento, o que inviabiliza construção de moradia popular. Segundo a prefeitura, a Defesa Civil do município estudou a possibilidade de retirar apenas parte dos barracos, mas concluiu que isso colocaria os demais barracos em risco, por causa da fragilidade estrutural do conjunto.

Segundo o grupo, as famílias não têm para onde ir nem receberam ajuda da prefeitura. Famílias protestavam no local desde a chegada da PM, pela madrugada. Os manifestantes fizeram barricadas e atearam fogo durante a manifestação na rua José Porfírio de Souza para tentar impedir a chegada do oficial de Justiça. Eles também obrigaram o motorista e o cobrador de um ônibus a desembarcarem e cruzaram o veículo na rua.

Por volta das 8h, a tropa de Choque chegou ao local para retirar as famílias. Segundo a PM, os moradores atearam fogo em um ônibus e atiraram pedras e pedaços de paus contra a polícia. Os policiais revidaram com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. O incêndio no ônibus foi controlado rapidamente, segundo a polícia.

Reprodução/TV Globo
Moradores realizam protesto contra reintegração de posse em terreno na zona oeste de São Paulo
Moradores realizam protesto contra reintegração de posse em terreno na zona oeste de São Paulo

A tropa de Choque lançou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar o grupo.

Após o tumulto, uma retroescavadeira foi usada para retirar a barricada feito pelos moradores na via. Além da Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros também acompanhou a reintegração de posse do terreno.

Devido ao protesto ao menos cinco linhas de ônibus, segundo a SPTrans (empresa responsável pelo transporte público municipal), não circularam na região. Os moradores tiveram que andar até o km 17 da rodovia Raposo Tavares para pegar um coletivo.

Além da Raposo, protestos foram realizados na avenida Giovanni Gronchi, na altura do entroncamento com a avenida Carlos Caldeira Filho, e na rodovia Régis Bittencourt, mas o trânsito já foi liberado em ambas as vias.

MTST/Divulgação
Protesto contra reintegração de posse e prisão de Eduardo Suplicy em SP
Protesto contra reintegração de posse e prisão de Eduardo Suplicy em SP

Segundo os manifestantes, 350 famílias foram cadastradas pela subprefeitura do Butantã em 2013, mas este número aumentou para cerca de 450. Os sem-teto reclamam que já fizeram várias reuniões com a subprefeitura, proprietária do terreno de mais de 11 mil metros quadrados, mas não conseguiram entrar em um acordo.


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