Folha de S. Paulo


Gosto leva gaúchos a trocar água da torneira por mineral para chimarrão

Edu Andrade/Folhapress
A estudante Camille Beckencamp, 22, com o chimarrão que prepara com água filtrada
A estudante Camille Beckencamp, 22, com o chimarrão que prepara com água filtrada

O típico chimarrão dos porto-alegrenses está mais amargo. Desde maio, moradores da capital gaúcha desistiram de ferver a água da torneira para preparar a bebida com erva-mate, tradicionalmente servida em uma cuia da planta chamada porongo.

O gosto e o cheiro ruim da água que os moradores contam sentir nos últimos meses levaram a uma mudança no ritual de preparo da infusão. Agora, a água da torneira é substituída por garrafas compradas ou é filtrada.

Em anos anteriores, o gosto estranho do líquido era resultado de uma proliferação de algas, mas nunca em uma dimensão como a atual.

Desta vez, a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) até encontrou anomalia de bactérias na água, mas essa não seria a causa do problema, que segue ainda sob investigação.

A opção pela água mineral foi adotada pelos estudantes Vinícius Perusso, 20, e Iulisloi Zacarias, 31. Vindos de diferentes cidades do interior, eles dividem um apartamento no bairro Bom Fim e são parceiros de "chimarreadas".

Sentindo um gosto "insuportável" da água da pia, eles passaram a usar a água comprada no mercado. "Não só para o chimarrão, mas para café e chás, tudo com água mineral", conta Perusso. Eles relatam que a situação melhorou levemente em junho, mas que a água "continua estranha".

Com as férias acadêmicas de inverno, o chimarrão ganha ainda mais espaço na cidade. É comum ver gaúchos com suas cuias e garrafas térmicas nas ruas e shoppings. Mas os locais preferidos para tomar a bebida com amigos são os parques. Em dias de sol, os parques Farroupilha, Moinhos de Vento, Marinha e Encol ficam lotados de "rodas de chimarrão".

Na tarde fria da última quarta (20), o casal Camille Beckenkamp, 22, e Matheus Bottin, 22, aproveitava as férias tomando chimarrão no parque da Encol, no Bela Vista, bairro nobre da capital. Eles contam que trocaram a água da torneira por filtrada.

Camille lembra que na primeira vez que sentiu o gosto ruim, ao colocar uma cápsula de vitamina C efervescente na água, "quase vomitou".

O comerciante Jair de Miranda, 41, dono de um minimercado no bairro Petrópolis, conta que as vendas de água mineral aumentaram 20% desde que a água piorou.

O Dmae (Departamento de Água e Esgoto), responsável pelo rede pública de abastecimento, diz que, apesar da alteração no gosto e no cheiro, a água é potável.

"A saúde da população não corre nenhum risco. O desconforto causado pelas alterações tem origem em substância externa ao processo de tratamento do Dmae. Provavelmente algum composto presente no Lago Guaíba", afirma o órgão, em nota.


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