Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Esquema no HC é mais um tentáculo da 'máfia das próteses'

O esquema desvendado no Hospital das Clínicas de São Paulo é mais um dos tentáculos da "máfia das próteses", uma organização que envolve médicos, funcionários de hospitais e empresas de dispositivos de saúde e que já é alvo de três CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito).

Entre os crimes estão desde fraudes e compras superfaturadas, o que lesa o SUS e os planos de saúde, até cirurgias desnecessárias. Desde o início de 2015, ao menos 17 empresas estão sob investigação e dez pessoas foram indiciadas em Minas, Rio, Santa Catarina e São Paulo.

Só em Montes Claros (MG), três cardiologistas foram presos sob acusação de crimes como receber propinas sobre equipamentos médicos comprados com verbas do SUS.

FRAUDES NO HC
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde PF apura fraudes

O mercado dos implantes (como marcapassos e pinos e parafusos para cirurgias ortopédicas) movimenta no país cerca de R$ 12 bilhões ao ano.

Um dos "modus operandi" dessas organizações criminosas é estimular que pacientes busquem na Justiça remédios e outros dispositivos. Essas decisões judiciais obrigam que a União, os Estados e os municípios façam compras sem licitação, pagando muito mais caro.

Todos têm o direito de ir à Justiça por remédios e tratamentos não oferecidos, mas os orçamentos são finitos e cada vez menores (no âmbito federal, a previsão é de R$ 24 bilhões a menos). Estudos apontam que a judicialização aumenta a iniquidade na saúde, já que quem recorre à Justiça possui mais recursos –quase 70% das ações vêm de advogados e médicos particulares.

Em SP, o custo da judicialização na saúde deve chegar a R$ 1,2 bilhão em 2016. Segundo o secretário, David Uip, ao menos R$ 240 milhões podem ser resultado de golpes.

Um dos caminhos para evitar fraudes e conflitos gerados pela busca da Justiça é o governo definir quais medicamentos e tratamentos devem ser oferecidos pelo SUS, como ocorre em outros países. A Constituição estipula que a saúde é direito de todos e dever do Estado, mas não diz que haverá recursos infinitos para dar tudo para todos.


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