Folha de S. Paulo


Mortes caem, multas triplicam e falhas persistem nas marginais em SP

Prestes a completar um ano, a redução do limite de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê resultou em queda nas mortes em acidentes e expressivo aumento das multas nas vias –que chegaram a triplicar na comparação do primeiro trimestre de 2016 com igual período de 2015.

Apesar desse potencial aumento de arrecadação, as pistas continuam a sofrer com velhos e conhecidos problemas: camelôs e pedestres transitando nas margens das vias expressas, bicicletas ao lado dos carros, lixo acumulado e falhas de orientação.

Em 20 de julho do ano passado, a gestão Fernando Haddad (PT) baixou os limites de 90 km/h para 70 km/h na pista expressa, de 70 km/h para 60 km/h na central e de 70 km/h para 50 km/h na local.

À época, a medida foi questionada judicialmente pela OAB-SP –sem sucesso– e dividiu especialistas em transportes. Embora a expectativa de redução de vítimas fosse majoritária, parte considerava a iniciativa exagerada e cobrava outras ações para melhorar a situação das pistas.

A prestação de contas do impacto na segurança feita pela gestão Haddad é deficiente –os últimos dados completos ainda são do fim de 2015.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) diz ainda não dispor de novos números consolidados, mas que os preliminares permitem estimar queda de 11% nas mortes em acidentes na cidade no primeiro semestre deste ano.

Pelos resultados já consolidados, na comparação entre 2014 e 2015, as marginais tiveram diminuição de 33% nas mortes, de 73 para 49. Ainda assim, as duas continuavam a ser as vias mais fatais da capital. Foram 30 mortes na marginal Tietê e outras 19 na marginal Pinheiros. Os motociclistas são os que mais perderam a vida nessas pistas: 22, seguidos de 14 motoristas e ocupantes de veículos e 13 pedestres.

A queda mais significativa ocorreu a partir dos novos limites de velocidade, conforme dados da gestão Haddad. Na cidade, a redução das mortes foi menor, de 22%.

Mortos em acidentes -

RADARES

Se as mortes caíram 33%, as multas por excesso de velocidade triplicaram nas marginais. Na comparação do primeiro trimestre de 2015 com igual período deste ano, houve aumento de 218%, segundo levantamento da Folha.

De 171 mil multas nos primeiros três meses do ano passado, a quantidade de infrações de velocidade registradas nas marginais Pinheiros e Tietê ultrapassou 544 mil em 2016. São mais de quatro multas por minuto neste ano.

A alta é mais expressiva que a da cidade em geral, em que esse tipo de infração pouco mais que dobrou, chegando a 1,8 milhão em 2016.

Além da redução dos limites, colaborou para isso a ampliação de radares. Nas marginais, Haddad prometera adicionar 22 novos equipamentos aos 65 já existentes.

Para Tadeu Leite Duarte, diretor de planejamento da CET, a ampliação nas multas "faz parte do processo para reduzir as mortes". Sobre falhas que persistem nas marginais, como pedestres em risco, diz que a CET atua em conjunto com outros setores da administração. "Não se transforma nada da noite pro dia. Tínhamos muito mais moradores de rua antes, por exemplo."

Multas por excesso de velocidade, em mil -

GARGALOS

Para comentar os problemas persistentes das marginais Pinheiros e Tietê, a Folha convidou Flamínio Fichmann, urbanista e especialista em trânsito, para um passeio pelas duas vias na tarde desta quinta-feira (14).

Munido de um tipo simples de radar-pistola, capaz de fazer a leitura da velocidade média de um veículo, Fichmann mostrou uma das falhas da fiscalização eletrônica atual: a desaceleração dos carros somente ao se aproximarem dos radares.

Tanto carros como caminhões que tiveram velocidades médias identificadas pelo especialista trafegavam acima do limite de 50 km/h na local, mas logo freavam ao perceber o aparelho.

"É a mesma coisa com o radar oficial. Mas se ele só identifica a velocidade naquele ponto, o motorista não é multado. A fiscalização por velocidade média inibiria essa esperteza", afirma Fichmann.

O especialista critica ainda os critérios de escolha da localização dos radares pelas marginais. "Os equipamentos não estão implementados de acordo com o índice de acidentes do ponto em que estão. Nos moldes atuais, têm caráter arrecadatório."

Lentidão nas duas marginais, em km - Considera apenas de julho a setembro

Para Fichmann, uma boa política de prevenção de acidentes fatais não se esgota na instalação de radares: é fundamental expandir o número de blitze. "Isso é particularmente importante em vias como as marginais, que têm motociclistas como as principais vítimas fatais, mas onde os radares são incapazes de aferir a velocidade das motos", pondera.

Em sua análise, as ações da CET ainda hoje se pautam muito pela fluidez do trânsito, e não pela segurança viária. "A companhia praticamente não fiscaliza durante a noite ou em finais de semana", afirma.

Outro ponto para o qual Fichmann chama a atenção é a grande quantidade de moradores de favelas ou de construções precárias nas marginais e a presença maciça de comerciantes nessas regiões. Em cerca de duas horas de trajeto, havia mais de 20 vendedores nas vias.

"Pistas expressas não foram projetadas para circulação de pessoas. Apesar disso, houve 13 pedestres mortos aqui no ano passado. Isso é falta de ação social, não é só com engenharia de tráfego que essa situação vai ser resolvida", lamenta.

Fichmann criticou ainda a orientação aos motoristas nas áreas: "As placas ficam quase em cima das entradas, isso faz até com que as pessoas assumam mais riscos".

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RAIO-X DAS MARGINAIS

Tietê
Extensão: 24,4 km
Movimentação: 30 mil carros por hora no horário de pico*

Pinheiros
Extensão: 22,5 km
Movimentação: 19 mil carros por hora no horário de pico*

87 é o total de radares nas duas vias

Redução de velocidade em jul.2015

  • Pistas expressas: de 90km/h para 70km/h
  • Pistas locais: de 70km/h para 50km/h
  • Pista central da Tietê: de 70 km/h para 60 km/h

Problemas que persistem

  • Lixo entre as pistas expressas e locais
  • Camelôs circulando nas expressas
  • Bicicletas no acostamento
  • Moradores de rua

*Dado de 2015


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