Folha de S. Paulo


análise

Área disputada da Ceagesp equivale a metade do Ibirapuera

Não é nova a ideia de transferir a Ceagesp para o entorno da capital paulista, diminuindo o fluxo de caminhões em seu centro expandido. Há mais de 15 anos, por exemplo, Joaquim Guedes recebeu prêmio do departamento paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil pelo desenho de uma nova central de abastecimento, com 270 mil metros quadrados, fomentada durante a construção do trecho oeste do Rodoanel.

A pauta retorna aflorando três questões urbanísticas. A primeira refere-se à pertinência de uma PPP (parceria público-privada), potencializada pela incapacidade de investimento do Estado em contraste com o alto valor imobiliário da Vila Leopoldina.

Assim, é desejável não utilizar recursos públicos, mas as três instâncias governamentais devem coordenar o processo. Contudo, como o foco dos ministérios da Agricultura e do Planejamento não é a qualidade de vida do cidadão, a prefeitura teria mais sensibilidade para liderar a iniciativa.

A segunda questão refere-se à localização da nova central de abastecimento –e é positiva a sua proximidade com o Rodoanel e com as linhas ferroviárias.

Por fim, a terceira e mais importante questão é o destino da gleba da Vila Leopoldina, com área equivalente a metade do parque Ibirapuera e localização privilegiada.

Nos extremos, os bucólicos sonham com novo parque enquanto as feras do mercado imobiliário contabilizam possíveis lucros imaginando a maior área de venda possível.

Se o governo já investiu ali construindo o parque Villa-Lobos, o mercado deu exemplo de péssimo urbanismo com seus condomínios-clube, de extensos muros e calçadas assustadoras.

Sem parque nem muros, a área do antigo Ceagesp mereceria uma PPP exemplar que usasse o patrimônio público para idealizar uma cidade melhor.

Como? Uma possibilidade é adensar o suficiente para financiar a transferência, construindo uma nova centralidade para a região, um bairro denso, sustentável e inovador, que tivesse foco no pedestre e abrigasse os mais diversos usos, desde habitações sociais até grandes torres corporativas. Sem esquecer de um mercado local, onde seria possível voltar a pé para casa, carregando agrião e samambaias.

FERNANDO SERAPIÃO é crítico de arquitetura e editor da revista "Monolito"


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