Folha de S. Paulo


Em novo livro, Rosely Sayão trata da criação em mundo superinformado

Zanone Fraissat-27.fev.2014/Folhapress
SAO PAULO/SP-BRASIL,27/02/14 - Retrato da psicologa e colunista da Folha Rosely Sayao, que vai estrear uma coluna na Folhinha.(Foto: Zanone Fraissat /FOLHINHA)
A psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão

Informação é o que não falta, mas os pais estão cada vez mais perdidos na missão de criar e educar os filhos.

Os desafios são muitos: o mundo em rápida transformação; a supervalorização da juventude, que tira a autoridade dos pais; o estilo de vida atual, com sua confusão de valores; e uma visão estreita da educação, que não considera o contexto social.

Além do mais, muita informação obriga a fazer escolhas, e muitos pais estão fartos delas. Eles procuram "a" fórmula, querem saber qual é "o" caminho para educar bem os pequenos.

O diagnóstico é da psicóloga Rosely Sayão, 66, que lança novo livro pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha, "Educação Sem Blá-blá-blá: Como preparar seus filhos e alunos para o convívio familiar, a escola e a vida", coletânea de colunas publicadas na Folha.

Apesar do cenário difícil, Rosely rejeita o rótulo de pessimista. "Há pequenos grupos promovendo mudanças. Quando existe diversidade no estilo, podemos ficar mais tranquilos", diz.

Dividido em oito grandes temas, o livro trata da relação familiar, da autonomia, das decisões sobre a vida dos filhos, os direitos e responsabilidades das crianças e a confusão entre os papeis que cabem aos pais e à escola, entre outros temas caros a quem tem ou pretende ter filhos.

Embora chame a atenção para equívocos, como a permissão para que as crianças façam escolhas para as quais não estão preparadas ou, ainda, a insistência em poupá-las dos sofrimentos inevitáveis da vida, Rosely dirige um olhar compassivo para os adultos, que a psicóloga considera vítimas das pressões sociais.

Na tentativa de responder às expectativas de criar crianças bem-sucedidas, por exemplo, pais enchem as agendas delas de cursos e atividades, mas colhem frutos bem menos brilhantes: filhos que não têm tempo para a infância.

INTERNET

O mundo virtual, fonte de muitas dúvidas e angústias dos pais –que, ao contrário dos filhos, não são nativos digitais– merece um capítulo exclusivo no livro.

Rosely entende que o fato de as crianças dominarem mais que os adultos o universo da internet pode ser desafiador, mas enfatiza que o discernimento para lidar com o mundo digital é o mais importante. "O que importa é o conhecimento, a maturidade, o contexto, e essas ferramentas são os pais que têm."

Como o adolescente e a criança não percebem que estão em um ambiente público na rede, Rosely defende a tutela no uso da internet. "Os pais deixam os filhos sozinhos na praça da Sé?", provoca. Segundo ela, não se trata apenas de segurança. O grande risco é os jovens se perderem na experimentação de outros papeis. "Como a identidade deles está em formação, há o risco de não saberem voltar", afirma.

E a privacidade dos mais novos, como fica? "Os pais perguntam quantas meninas o filho beijou na balada, isso tira a privacidade. Tutela é dever dos pais", assegura.

Os desafios da escola também têm espaço no livro. Para Rosely, as famílias estão mudando, na configuração e na dinâmica, enquanto a instituição continua "igualzinha". Ensinar conteúdo, diz, é uma perda de tempo, já que a internet é uma fonte de informação bem mais atraente. Além disso, a escola e os pais vivem uma confusão de papeis, cuja raiz é a dificuldade atual de se separar a vida pública e a privada.

Aos pais ansiosos com os deveres de casa e o desempenho dos filhos, Rosely faz um alerta: acompanhar a vida escolar significa tentar entender se a criança está curiosa e consegue utilizar o que aprendeu nas situações da vida.

Educação Sem Blá-blá-blá
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"O que percebo hoje –e isso é um fenômeno pelo qual vamos pagar caro– é que as vidas dos pais e dos filhos têm mediação excessiva da escola. Os pais têm pouco tempo para ficar com o filho e ainda têm que administrar a vida escolar dele... Não sobra tempo para cozinharem juntos, para contar histórias. Isso é que é vida familiar", afirma.

As crianças necessitam de um olhar mais amoroso, diz a psicóloga, para quem sua missão consiste em fazer os pais "pensarem como adultos". E há esperança? "Se eu não tivesse convicção de que eles podem mudar eu nem faria esse trabalho", conclui.

Educação Sem Blá-blá-blá
Autora Rosely Sayão
Editora Três Estrelas
Quanto R$ 49,90 (304 págs.)


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