Folha de S. Paulo


Lulla Salvadori di Wiesenhoff Vallarino Gancia (1924-2016)

Mortes: Uma italiana que brilhou em salões e pistas

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Lulla Salvadori di Wiesenhoff Vallarino Gancia (1924-2016)
Lulla Salvadori di Wiesenhoff Vallarino Gancia (1924-2016)

Ela não falava a idade nem para o ginecologista, avisa a jornalista Barbara Gancia, 58, ao informar que sua mãe, Lulla Salvadori di Wiesenhoff Vallarino Gancia, morreu nesta sexta-feira (24), aos 92 anos.

Essa inconfidência da filha será perdoada pela matriarca de uma tradicional família italiana radicada em São Paulo desde 1953 que se despediu da vida com elegância.

Internada no Albert Einstein, Lulla pediu à filha caçula que fosse sedada, quando complicações circulatórias levaram a uma septicemia, causa do óbito. Ela registrou documento em cartório declarando não querer sua vida prolongada artificialmente.

Além de Barbara, ela deixou outros dois filhos, Carlo Gancia, 66, e Kika Rivetti, 64, da união com Piero Gancia, morto há cinco anos. Os dois se casaram no pós-guerra em Turim e decidiram deixar a Itália ao eclodir o conflito da Coreia em 1950, em um 25 de junho, como hoje, data do nascimento do primogênito.

Temendo a terceira guerra mundial, os Gancia passaram pela Argentina e Uruguai, até que vieram para o Carnaval no Brasil e nunca mais se foram. "Minha mãe era muito bonita, à frente do seu tempo. Foi feminista sem saber", define Barbara sobre o perfil distante da típica "mamma".

Lulla era apaixonada por automobilismo. Ganhou corridas na categoria turismo. Correu em dupla com Wilsinho Fittipaldi na inauguração do autódromo de Brasília. Quando o marido presidia a Associação Paulista de Pilotos, assumiu a reforma de Interlagos, que tornou o autódromo apto para F-1.

O redesenho do kartódromo de SP foi outro esforço pessoal. Lulla fez da pista a escola de ídolos como Senna e Barrichello. Era dona de uma personalidade que encantou visitantes ilustres, como o astronauta Neil Armstrong. Foi jurada do Miss Universo disputado por Vera Fischer.

"Ela é pedaço da história de uma São Paulo que prometia tanto", diz Barbara. "Na mesa dela sempre tinha um cara humilde e um príncipe. Promovia mistura de idades, classes sociais, patrimônio que nos deixou", diz a caçula. "Era grã-fina de verdade, não do tipo metida à besta."

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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