A catedral da Sé, na região central de São Paulo, foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico).
O tombamento da igreja foi aprovado na última segunda (20) devido à importância religiosa e histórica da edificação para a cidade de São Paulo. Na década de 1970, a catedral realizou missas em memória de mortos durante a ditadura militar (1964-1985), como a do jornalista Vladimir Herzog e do operário Santo Dias da Silva.
A praça da Sé, que concentrou os primeiros atos pelas Diretas-Já, na década de 1980, e contra o alto custo de vida, em 1978, também foi tombada. O perímetro de tombamento inclui ainda os monumentos Marco Zero e Padre José de Anchieta, e a Aléia de Palmeiras. A única exceção foi a praça Clóvis Bevilacqua. Até hoje, a catedral e a praça servem de ponto de encontro para importantes manifestações populares e políticas.
"O tombamento da Catedral da Sé de São Paulo apresenta importância pelo reconhecimento do valor material e simbólico do edifício e da praça de mesmo nome. A Catedral e sua praça fronteira sempre desempenharam um importantíssimo papel cívico, além do religioso", disse José Eduardo Lefèvre, presidente do conselho.
Com o tombamento, obras, reformas, restaurações, instalação de mobiliário urbano –como bancos e paradas de ônibus– ficam sujeitas à aprovação prévia do Condephaat. Estão vetadas, segundo a Secretaria do Estado da Cultura, antenas de telecomunicações, painéis luminosos e anúncios publicitários que não se harmonizarem com os elementos tombados.
A secretaria reforça ainda que o tombamento não altera a situação de propriedade, isto é, não interfere no uso dos bens tombados, desde que não hajam intervenções físicas nesses locais.
IMPORTÂNCIA HISTÓRICA
A UPPH (Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico), órgão da secretaria, afirmou ainda que a catedral e a praça da Sé constituem testemunhos materiais da transformação da vila colonial em metrópole, do Império em República, dos bondes em metrô e das diversas formas de sociabilidade e cultura ao longo de seus quase 500 anos de existência.
"Este tombamento representa perfeitamente a finalidade da sua intenção: a de transmitir para as futuras gerações as referências da obra e do engenho das gerações passadas, com vistas à consolidação de uma identidade cultural no presente", disse Lefèvre.
A secretaria informou que ainda não há data para publicação do tombamento no "Diário Oficial". Desde a criação do Condephaat, em 1968, 178 imóveis foram tombados em São Paulo –alguns deles se referem a bens isolados, outros são conjuntos compostos por diversos imóveis, como o Conjunto do Bairro Campos Elíseos, com mas de 30 imóveis indicados para preservação.
HISTÓRIA
Construída no lugar da primeira igreja matriz de São Paulo, a catedral da Sé foi inaugurada em 1954, durante as comemorações do Quarto Centenário de São Paulo. A construção levou 41 anos.
De autoria do arquiteto e professor da Escola Politécnica Maximiliano Hehl, o projeto da nova catedral adotou o estilo neogótico e a inclusão da cúpula de concreto sobre o cruzeiro, característica academicamente classificada como pertencendo à arquitetura religiosa renascentista.
Iniciada em 1913, as obras foram acompanhadas por Hehl até sua morte, em 1916, quando a construção passou a ser dirigida por outros professores da Escola Politécnica. Elementos "tropicais" foram adicionados na arquitetura gótica. No topo das colunas, esculturas de animais –como porco e tatu– e da flora nativa –como maracujá e jabuticaba– podem ser observados.
A inauguração da catedral ocorreu em 1954, embora ainda não estivesse concluída. Em 1956 foi organizada uma comissão responsável pela "Campanha das Torres para São Paulo", com o objetivo de recolher fundos para a construção das torres e término das obras.
Os serviços foram considerados concluídos com a chegada do órgão –o maior da América Latina. Fabricado na Itália, ele possui cinco teclados manuais, 329 comandos, 120 registros e 12 mil tubos, cujas bocas, de forma gótica, contam com relevos entalhados à mão.